terça-feira, 31 de agosto de 2010

Malhação: mais um deserviço à educação


Hoje, cheguei muito cansado do trabalho e quis aliviar a tensão e o cansaço do dia vendo um programa leve qualquer de tv. Me vem a frente o folhetim 'Malhação'. "Novos" personagens, "nova" trama, "novos": vocês já sabem...
Vamos lá, não custa nada ver, é só pra relaxar, né? Só que não deu.
Resumindo o que vi hoje, posso dizer que a escola da elite da micronovela ‘acolheu’ alguns alunos provenientes da classe desfavorecida da sociedade fluminense, ou seja, pra se sentirem com menos peso na consciência, se é que há, fizeram um teste de seleção pra que uns afortunados da periferia pudessem estudar na dita escola. Resultado: uma chuva de preconceitos.
O que me deixou mais intrigado foi ver o MV Bill fazendo parte da trama para reforçar o que estava sendo dito. Num determinado momento do enredo um personagem o questiona “O sr. também estudou em escola pública?” E ele responde “É. Meus pais não tinham dinheiro pra isso (estudo)”. E para a infelicidade nossa que somos professores, o famigerado rapper é ‘professor’ da novelinha global. Em outra cena, o rapper – diga-se de passagem: está atuando muito mal – trava uma conversa em sala com os alunos sobre a diversidade cultural, tentando mostrar que a mistura é algo positivo, bom, agradável. No entanto, deixa de problematizar que essa mixtura não é nada pacífica, pelo contrário, é bastante tensa e contraditória. Em suma, no lugar de ser um rapper, acabou sendo um glopper: um rapper comportadinho nos padrões Globais de comunicação, ou seja, um Gabriel Pensador.
Enquanto professor de escola pública fico indignado com a representação tosca que recebemos da elite brasileira, sendo a TV o principal instrumento de despolitização e anestesiador da consciência do nosso povo.
Não há como não se entristecer diante do que vi/ouvi e verei/ouvirei por muito tempo (infelizmente): que nossas escolas públicas não servem para estudar, e que estudar mesmo, só em escola particular. Não tenho outra saída a não ser a busca incessante pela resistência, e com ela buscar novos modos de ver e construir o mundo a minha volta.

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