domingo, 30 de outubro de 2011

A Minha/Nossa dívida com as construtoras

Por Eduardo Cruz      
      Muitas construtoras têm se aproveitado do programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal para enganar clientes. E, enganosamente, alguns meios de comunicação culpam o programa, mas nada ele tem haver com as falcatruas de certas construtoras.
    Visando simplesmente ao lucro, sem se preocupar com a satisfação do/a cliente, algumas construtoras acabam trazendo para os compradores/as um transtorno irreparável. Sonhos são adiados, planos estendidos... tudo por causa de uma empresa que não levou a sério os seus preciosos clientes. 
       Os corretores, mais conhecidos como sedutores, são os responsáveis diretos pelo "golpe". Não quero generalizar, mas a maior parte dos que oferecem imóveis tem má fé no que fazem, estão pouco se importando para os problemas que acometerão os compradores. Esses profissionais enchem os clientes de expectativas a fim de fazê-los pagar o famigerado sinal de entrado imóvel. Pago a entrada. Adeus...
    Vai aqui uma dica preciosa para você que está vendo essa explosão de construção de imóveis e pretende comprar um: guarde todos os papeis de divulgação, principalmente se o imóvel se enquadra no Programa Minha Casa Minha Vida. Essas propagandas servirão como prova, caso dê algum problema com o financiamento. Dessa forma, você comprovará na justiça que o imóvel que lhe foi oferecido tinha como condição o financiamento pelo referido programa. 
          

domingo, 16 de outubro de 2011

Honoris causa ou “precisava”…?


Por Caio Christiano, no Lin.guis.ti.ca.men.te

O instituto universitário em que trabalho aqui na França resolveu homenagear o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva com o título de honoris causa. A notícia causou certa celeuma entre alguns jornais e jornalistas que chegaram ao cúmulo de vir cobrar do presidente da universidade que o título não fosse dado à Lula (lembremos que os membros da comissão já haviam decidido por unanimidade que o título seria conferido) já que ele não possuía diploma universitário (talvez esses jornalistas devessem ir ao dicionário buscar a definição de honoris causa).
Discussões políticas à parte, a direção da universidade havia decidido que todos os alunos do campus em que trabalho, o de Poitiers, cidade  que fica a, mais ou menos, 350 km de Paris, seriam convidados a assistir à cerimônia. Nada mais justo, pois nesse campus são feitos estudos sobre a América Latina e todos os alunos têm a obrigatoriedade de falar o português e o espanhol, que são, junto com o francês e o inglês, as línguas oficiais do campus.
Os alunos então decidiram (de livre e espontânea vontade, diga-se de passagem) de fazer algo diferente para homenagear o homenageado e decidiram cantar-lhe uma canção que eu lhes havia passado há algumas aulas, “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré. Vieram me perguntar se poderia causar algum mal-estar, se por acaso essa canção tinha alguma conotação política que pudesse, de alguma forma, ofender o ex-presidente. Como lhes disse que não, pelo contrário, prosseguiram com o projeto e os alunos dos níveis mais avançados, com os quais eu havia usado a música em curso, se apressaram a imprimir letras e ensinar aos alunos mais novos (que começaram a aprender o português há apenas 3 semanas) a cantar a música. Ao final da cerimônia, todos cantaram com alegria e via-se em seus olhos a satisfação de terem feito alguma diferença, ainda que mínima, no mundo, numa língua estrangeira. E essa língua estrangeira era o nosso português, tão pouco ensinado mundo afora.
Qual não foi nossa surpresa quando no dia seguinte vimos que o site terra.com havia publicado uma notícia em que se lia o seguinte trecho:
« Lula ainda teve o discurso interrompido diversas vezes por aplausos e, ao final da cerimônia, teve direito a uma homenagem com carregado sotaque francês: em português e com a letra nas mãos, os alunos entoaram “vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, refrão da famosa música ‘Para dizer que não falei de flores’, de Geraldo Vandré. »
Na aula de hoje de manhã, uma aluna veio me dizer: “precisava ressaltar o sotaque francês? Precisava ressaltar que alguns tinham a letra nas mãos?”.
Pois é, precisava? Por que será que no mesmo site pode-se ler frases como as seguintes:
« A cantora (Shakira) falou em português durante toda a entrevista »
« Vocalista Brian Molko falou em português com os fãs »
« Como no Rio de Janeiro, Waters começou o show sem atrasos, às 21h05, com a música In The Flesh, e arriscou um “obrigado” em português. »
« Jamie Cullum falou em português com a platéia »
Eles que falam com tanto orgulho de cantores que aprendem a palavra « obrigado »… Será que precisava criticar o português desses alunos que tanto querem aprender a nossa língua? Ou será que não era o português deles que eles criticavam…
Francamente, precisava?

Mulheres reclamam de abuso sexual e estupro no metrô. A TV Globo acha engraçado.






Do Blog Amigos do Presidente Lula
No dia 18 de agosto, policiais militares prenderam em flagrante um homem que tentava violentar uma mulher na estação Sacomã do Metrô de São Paulo.
No último dia 21 de julho, outra mulher foi atacada por um homem na mesma estação, mas conseguiu fugir.

Uma mulher foi molestada sexualmente dentro do vagão do Metrô da Vila Madalena (Linha 2 - Verde), na zona oeste de São Paulo, no dia 19 de abril. O caso foi divulgado nesta sexta-feira. De acordo com a Polícia Civil, o fato aconteceu às 8h30 da manhã entre as linhas Paraíso e Vergueiro.

A mulher afirma que estava no vagão cheio quando um homem segurou em seu braço e ameaçou ferir seu rosto se ela se manifestasse. O agressor colocou a mão por baixo da saia da vítima, rasgou a calcinha dela e tocou nas partes íntimas.

Outros passageiros perceberam a ação e tentaram segurar o homem, mas ele conseguiu escapar.

O caso foi registrado no 78º Distrito Policial como estupro e encaminhado à Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom).

Qualquer comportamento inadequado percebido pelos passageiros seja imediatamente comunicado a um funcionário do Metrô para as providências cabíveis". Essa comunicação pode ser feita pessoalmente ou via SMS-Denúncia (11 7333-2252), que funciona 24h por dia. O serviço SMS garante total anonimato aos denunciantes.
Enquanto isso o programa humorístico Zorra Total da TV Globo, continua mantendo cenas de abuso sexual e bolinação dentro do Metrô em um quadro de humor, banalizando um ato criminoso contra as mulheres.

Sou um dos 99%, sou contra a ganância de 1%

Ontem à noite, o Jornal Nacional mostrou timidamente os protestos que estão explodindo no mundo inteiro. Chamado de Indignados, o movimento ganha força a cada dia nos mais diversos países combatendo a ganância do capitalismo neoliberal. Aqui, a revolta não é discutida, só é mostrada de relance. 
Por outro lado, a marchar contra a corrupção sugeridas pelo PSDB, DEM são rezados quase que diariamente por essa mídia. Por que será?
Imagine
...
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
....
John Lennon







A garantia estendida do Supermercado Extra: opção ou opressão?

Por Eduardo Cruz


Caros leitores/as, essa semana fiz uma compra no Extra (Lagoa) e tive a infelicidade de ser moralmente assediado e impelido a pagar por algo que não desejava. 
Ao comprar um produto, que segundo o vendedor tinha dois anos de garantia, fiquei sabendo, somente no caixa, que o segundo ano era a famigerada garantia estendida. 
De imediato fui ao SAC da loja fazer o estorno da compra. Solicitei a presença do gerente para falar do que havia ocorrido. E para o meu espanto, o tal gerente ficou visivelmente irritado com o cancelamento da garantia
O gerente disse que eu iria pagar juros se parcelasse a compra em duas vezes, e que eu iria demorar muito na fila para fazer o novo pagamento.
Resultado: o gerente mentiu. 
Não precisei passar de uma só vez no cartão para evitar os juros; e ainda foi estornado o valor de R$ 87,18.
E não acabou. Mais chateação: o produto que comprei veio com pequena danificação. Pedi, então, para trocá-lo. Ao receber o outro aparelho, identifiquei o mesmo problema. Pedi para trocar novamente. Sabe o que a funcionária falou? "Desse jeito, vamos tirar os lacres de todos os produtos." E eu disse: "O problema é de fábrica; nem é meu, nem é seu." 
Enfim, recebi o novo aparelho, só que agora da mão do vendodor, que abatido me perguntou: "Hei, cara, tu cancelou a garantia?"  Eu nem me dei o trabalho de responder.
Haja pressão no supermercado da "família". Dessa família eu não quero nem a herança.


Exclusivo: entrevista com Eliane Cantanhêde


Para quem não sabe quem é a entrevistadora, ela é uma das principais colunista da Folha de São Paulo, ficou conhecida por chamar o público do PSDB - e da direita em geral - de massa cheirosa. Com esse pensamento já dá para perceber o que a entrevista abaixo pensa sobre mídia, reforma agrária, MST, ...
Boa leitura.

----------
Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania
A jovem, simpática, inteligente e progressista Eliane Cantanhêde aceitou dar uma entrevista ao Blog da Cidadania. Confira, abaixo, as opiniões dela sobre a questão da mídia e sobre o ex-governador de São Paulo José Serra.
Blog da Cidadania – Eliane, o que você acha da imprensa brasileira?
Eliane Cantanhêde – A imprensa confunde jornalismo com opinião pessoal e/ou do patrão, seja ele brasileiro ou não. E não informa. Pelo contrário, desinforma para privilegiar certos segmentos.
Blog – O que você acha da Folha de São Paulo?
Eliane – Acho melhor não dizer o que penso. Digamos que prefiro mil vezes a “Falha de São Paulo”.
Blog – Você acha que deveríamos fazer uma “Ley de Medios”, no Brasil?
Eliane – A julgar pela polvorosa em que este tema pôs a mídia, sim. É claro. Todo mundo tem regras a seguir, não? Ou só os indefesos é que têm que obedecer?
Blog – Agora uma pergunta picante: você acha que a mídia é tucana?
Eliane – É elitista, arrogante, preconceituosa, tendenciosa, entreguista…  Sim, a nossa mídia é tucana.
Blog – Eliane, você compraria um carro usado do José Serra?
Eliane – Para deixar bem claro: não compraria nada desse senhor. Nem se fosse no Mercado Livre.
Blog – Eliane, fale um pouco de você. Uma microbiografia. Pode ser?
Eliane – Claro, Eduardo. Meu nome completo é  Eliane de Oliveira Cantanhêde. Sou oficialmente solteira, mas vivo com um companheiro. Sou secretária. Apesar de ser carioca, resido e trabalho em Blanes, na Catalunha, Espanha.
Blog – Grato pela entrevista, Eliane.
Eliane – Disponha, Edu.
*
Confira, abaixo, a foto dessa simpatia de jovem carioca, leitora do blog, expatriada na Espanha  e que, após eu ter tomado um susto com o seu nome quando pediu para ser minha amiga no Facebook, gentilmente aceitou meu convite para participar desta bem-humorada entrevista.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

o casamento entre democracia e capitalismo acabou


O filósofo e escritor esloveno Slavoj Zizek visitou a acampamento do movimento Ocupar Wall Street, no parque Zuccotti, em Nova York e falou aos manifestantes. “Estamos testemunhando como o sistema está se autodestruindo. "Quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou". Leia a íntegra do pronunciamento de Zizek.

Durante o crash financeiro de 2008, foi destruída mais propriedade privada, ganha com dificuldades, do que se todos nós aqui estivéssemos a destruí-la dia e noite durante semanas. Dizem que somos sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são aqueles que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente da mesma forma.

Não somos sonhadores. Somos o despertar de um sonho que está se transformando num pesadelo. Não estamos destruindo coisa alguma. Estamos apenas testemunhando como o sistema está se autodestruindo.

Todos conhecemos a cena clássica do desenho animado: o coiote chega à beira do precipício, e continua a andar, ignorando o fato de que não há nada por baixo dele. Somente quando olha para baixo e toma consciência de que não há nada, cai. É isto que estamos fazendo aqui.

Estamos a dizer aos rapazes de Wall Street: “hey, olhem para baixo!”

Em abril de 2011, o governo chinês proibiu, na TV, nos filmes e em romances, todas as histórias que falassem em realidade alternativa ou viagens no tempo. É um bom sinal para a China. Significa que as pessoas ainda sonham com alternativas, e por isso é preciso proibir este sonho. Aqui, não pensamos em proibições. Porque o sistema dominante tem oprimido até a nossa capacidade de sonhar.

Vejam os filmes a que assistimos o tempo todo. É fácil imaginar o fim do mundo, um asteróide destruir toda a vida e assim por diante. Mas não se pode imaginar o fim do capitalismo. O que estamos, então, a fazer aqui?

Deixem-me contar uma piada maravilhosa dos velhos tempos comunistas. Um fulano da Alemanha Oriental foi mandado para trabalhar na Sibéria. Ele sabia que o seu correio seria lido pelos censores, por isso disse aos amigos: “Vamos estabelecer um código. Se receberem uma carta minha escrita em tinta azul, será verdade o que estiver escrito; se estiver escrita em tinta vermelha, será falso”. Passado um mês, os amigos recebem uma primeira carta toda escrita em tinta azul. Dizia: “Tudo é maravilhoso aqui, as lojas estão cheias de boa comida, os cinemas exibem bons filmes do ocidente, os apartamentos são grandes e luxuosos, a única coisa que não se consegue comprar é tinta vermelha.”

É assim que vivemos – temos todas as liberdades que queremos, mas falta-nos a tinta vermelha, a linguagem para articular a nossa ausência de liberdade. A forma como nos ensinam a falar sobre a guerra, a liberdade, o terrorismo e assim por diante, falsifica a liberdade. E é isso que estamos a fazer aqui: dando tinta vermelha a todos nós.

Existe um perigo. Não nos apaixonemos por nós mesmos. É bom estar aqui, mas lembrem-se, os carnavais são baratos. O que importa é o dia seguinte, quando voltamos à vida normal. Haverá então novas oportunidades? Não quero que se lembrem destes dias assim: “Meu deus, como éramos jovens e foi lindo”.

Lembrem-se que a nossa mensagem principal é: temos de pensar em alternativas. A regra quebrou-se. Não vivemos no melhor mundo possível, mas há um longo caminho pela frente – estamos confrontados com questões realmente difíceis. Sabemos o que não queremos. Mas o que queremos? Que organização social pode substituir o capitalismo? Que tipo de novos líderes queremos?

Lembrem-se, o problema não é a corrupção ou a ganância, o problema é o sistema. Tenham cuidado, não só com os inimigos, mas também com os falsos amigos que já estão trabalhando para diluir este processo, do mesmo modo que quando se toma café sem cafeína, cerveja sem álcool, sorvete sem gordura.

Vão tentar transformar isso num protesto moral sem coração, um processo descafeinado. Mas o motivo de estarmos aqui é que já estamos fartos de um mundo onde se reciclam latas de coca-cola ou se toma um cappuccino italiano no Starbucks, para depois dar 1% às crianças que passam fome e fazer-nos sentir bem com isso. Depois de fazer outsourcing ao trabalho e à tortura, depois de as agências matrimoniais fazerem outsourcing da nossa vida amorosa, permitimos que até o nosso envolvimento político seja alvo de outsourcing. Queremos ele de volta.

Não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que entrou em colapso em 1990. Lembrem-se que hoje os comunistas são os capitalistas mais eficientes e implacáveis. Na China de hoje, temos um capitalismo que é ainda mais dinâmico do que o vosso capitalismo americano. Mas ele não precisa de democracia. O que significa que, quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou.

A mudança é possível. O que é que consideramos possível hoje? Basta seguir os meios de comunicação. Por um lado, na tecnologia e na sexualidade tudo parece ser possível. É possível viajar para a lua, tornar-se imortal através da biogenética. Pode-se ter sexo com animais ou qualquer outra coisa. Mas olhem para os terrenos da sociedade e da economia. Nestes, quase tudo é considerado impossível. Querem aumentar um pouco os impostos aos ricos? Eles dizem que é impossível. Perdemos competitividade. Querem mais dinheiro para a saúde? Eles dizem que é impossível, isso significaria um Estado totalitário. Algo tem de estar errado num mundo onde vos prometem ser imortais, mas em que não se pode gastar um pouco mais com cuidados de saúde.

Talvez devêssemos definir as nossas prioridades nesta questão. Não queremos um padrão de vida mais alto – queremos um melhor padrão de vida. O único sentido em que somos comunistas é que nos preocupamos com os bens comuns. Os bens comuns da natureza, os bens comuns do que é privatizado pela propriedade intelectual, os bens comuns da biogenética. Por isto e só por isto devemos lutar.

O comunismo falhou totalmente, mas o problema dos bens comuns permanece. Eles dizem-nos que não somos americanos, mas temos de lembrar uma coisa aos fundamentalistas conservadores, que afirmam que eles é que são realmente americanos. O que é o cristianismo? É o Espírito Santo. O que é o Espírito Santo? É uma comunidade igualitária de crentes que estão ligados pelo amor um pelo outro, e que só têm a sua própria liberdade e responsabilidade para este amor. Neste sentido, o Espírito Santo está aqui, agora, e lá em Wall Street estão os pagãos que adoram ídolos blasfemos.

Por isso, do que precisamos é de paciência. A única coisa que eu temo é que algum dia vamos todos voltar para casa, e vamos voltar a encontrar-nos uma vez por ano, para beber cerveja e recordar nostalgicamente como foi bom o tempo que passámos aqui. Prometam que não vai ser assim. Sabem que muitas vezes as pessoas desejam uma coisa, mas realmente não a querem. Não tenham medo de realmente querer o que desejam. Muito obrigado

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

Caso Gisele Bündchen: Onde está a censura?


Mais uma vez fica claro que para os empresários privados de mídia no Brasil, até mesmo a autorregulação incomoda. Eles não querem que se altere o status quo. Não só se colocam acima de qualquer regulação, como não admitem nem mesmo que o Estado recorra às suas próprias instâncias autorreguladoras.

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa

No recente episódio envolvendo a posição da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) em relação a uma campanha da Hope Lingerie, estrelada pela modelo Gisele Bündchen, um dos aspectos que deve merecer nossa atenção é a reação unânime de repúdio da grande mídia à iniciativa da SPM-PR,acusada de cercear a liberdade de expressão.

O que fez a SPM-PR?
Diante de reclamações recebidas por sua Ouvidoria, a ministra Iriny Lopesencaminhou representação ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), com base nos artigos 19, 20 e 21 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e no inciso II do artigo 30 do Regimento Interno do Conar, solicitando a sustação da veiculação da campanha.

O que rezam estes artigos?

Artigo 19

Toda atividade publicitária deve caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às instituições e símbolos nacionais, às autoridades constituídas e ao núcleo familiar;

Artigo 20

Nenhum anúncio deve favorecer ou estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminação racial, social, política, religiosa ou de nacionalidade;

Artigo 21

Os anúncios não devem conter nada que possa induzir a atividades criminosas ou ilegais – ou que pareça favorecer, enaltecer ou estimular tais atividades;

Artigo 30 – A Medida Liminar é cabível quando:

(...)

II – A infração ética configurar flagrante abuso da liberdade de expressão comercial, ou provocar clamor social capaz de desabonar a ética da atividade publicitária, ou possa implicar grave risco ou prejuízo do consumidor;


Trata-se, portanto, de uma Secretaria de Estado solicitando providências a um conselho autorregulador da sociedade civil, apoiada em disposições do Código e do Regimento do próprio conselho. Para produzir algum tipo de efeito, a representação da SPM-PR teria, por óbvio, que ser julgada e aprovada pelo Conar.

Em que medida essa iniciativa pode ser considerada censura?

Se o órgão autorregulador não acatar a representação, não haverá qualquer tipo de sanção. Se acatar, por óbvio, será uma sanção prevista nas suas próprias regras. Neste caso, a eventual sanção não pode ser considerada censura ou se estaria a supor o absurdo de que há normas do Conar que permitem que este órgão autorregulador exerça funções de censor.

Os “libertários” caboclos 
Na verdade, mais uma vez, o episódio revela o atraso assustador dos nossos “liberais”. Do ponto de vista das doutrinas sobre o papel da “imprensa”, a posição dos executivos da grande mídia no Brasil é anterior à chamada “teoria libertária” que predominou nos EUA até meados do século passado e foi substituída pela “teoria da responsabilidade social” (ver, neste Observatório, “A responsabilidade social da mídia“).

Os libertários consideravam como indevida qualquer tentativa de intervenção do Estado em busca da proteção de direitos de grupos e/ou cidadãos. Uma excelente síntese dessa posição está expressa no editorial de O Globo intitulado“Gisele Bündchen incomoda tutores estatais”,publicado no último dia 4 de outubro. Para os editorialistas da família Marinho, os “tutores estatais” querem “um Estado forte a pairar sobre uma sociedade [considerada] incapaz de decidir o que é bom para ela”.

Os libertários nativos ignoram, por exemplo, o argumento oposto desenvolvido pelo jurista Owen Fiss, professor da Universidade Yale e ex-assistente de dois juízes da Suprema Corte dos EUA. Ele demonstra como a intervenção do Estado, garantida por decisões da Suprema Corte, tem assegurado liberdade de expressão a minorias (raciais, étnicas, religiosas, definidas por opção sexual), às mulheres e aos portadores de deficiência física (cf. A ironia da Liberdade de Expressão – Estado, Regulação e Diversidade na Esfera Pública; Renovar, 2005).

São esses mesmos libertários que consideram a classificação indicativa, prevista no inciso I do § 3º do artigo 220 da Constituição Federal de 1988, como “ataque à liberdade de expressão” (ver entrevista de Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, ao Último Segundo) e produzem diariamente um conteúdo jornalístico que, como afirma o professor Bernardo Kucinski, constutui...

“...um compacto político-ideológico em defesa dos fundamentos do modelo econômico chamado neoliberal: privatizações, terceirizações, flexibilização das leis trabalhistas e desrregulação do movimento de capitais. Também combate em uníssono as principais políticas públicas do governo, como o Bolsa Família, o Plano Nacional de Direitos Humanos, as cotas nas universidades e a política externa” (cf. “Prefácio” a Venício A. de Lima, Regulação das Comunicações – História, Poder e Direitos, Paulus, 2011).

O passado como futuro
Mais uma vez fica claro que para os empresários privados de mídia no Brasil, até mesmo a autorregulação incomoda. Eles não querem que se altere o status quo. Não só se colocam acima de qualquer regulação, como não admitem nem mesmo que o Estado recorra às suas próprias instâncias autorreguladoras.

Neste ritmo, em pleno século 21, em breve chegaremos à Idade Média.

Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011

Três pesos e nenhuma medida - Charge de Maringoni

1º Encontro Mundial de Blogueiros


As inscrições para o 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que ocorre entre os dias 27 e 29 de outubro, em Foz do Iguaçu, poderão ser feitas até o dia 24 (segunda-feira). O valor da adesão é de R$ 100,00, sendo que estudantes pagam meia. Para se inscrever, basta acessar a página do evento. Até agora, mais de 400 pessoas já garantiram presença.
A programação do Encontro também foi atualizada. Amy Goodman, do programa estadunidenseDemocracy Now, não poderá comparecer por conta de seu envolvimento na cobertura das manifestações em Wall Street. O veículo tem realizado um papel importante na reportagem dos protestos. Em seu lugar, foi confirmada a presença de Andrés Thomas Conteris, fundador do Democracy Now En Español.

Confira a programação completa
27 de outubro – quinta-feira
20 horas – abertura oficial e confraternização no Mirante de Itaipu;
28 de outubro – sexta-feira
9 horas – Debate: “O papel das novas mídias”
- Ignácio Ramonet – criador do Le Monde Diplomatique e autor do livro “A explosão do jornalismo”;
- Kristinn Hrafnsson – porta-voz do WikiLeaks;
- Dênis de Moraes – autor do livro “Mutações do visível: da comunicação de massa à comunicação em rede”;
- Luis Nassif – jornalista e blogueiro;
* Mesa dirigida por Natalia Vianna (Agência Pública) e Tatiane Pires (blogueira do RS);
14 horas – Painel: “Experiências nos EUA e Europa”
- Pascual Serrano – blogueiro e fundador do sítio Rebelión (Espanha);
- Andrés Thomas Conteris – fundador do Democracy Now! em Espanhol (EUA)
- Jillian York – blogueira, colunista do Huffington Post, Guardian e Al Jazeera (EUA);
- Enrique Palma – jornalista e blogueiro (França);
* Mesa dirigida por Renata Mielli (Barão de Itararé) e Altino Machado (blogueiro do Acre);
16 horas – Painel: “Experiências na Ásia e África”
- Ahmed Bahgat – blogueiro e ativista digital na “revolta do mundo árabe” (Egito);
- Atanu Dey – blogueira da Índia e especialista em Tecnologia da Informação (Índia) [*];
- Pepe Escobar – jornalista e colunista do sítio Ásia Times Online (Japão);
- Mar-Jordan Degadjor – blogueiro e diretor da ONG África para o Futuro (Gana);
* Mesa dirigida por Renato Rovai (Altercom) e Sérgio Telles (blogueiro do Rio de Janeiro);
Dia 29 de outubro – sábado:
9 horas – Painel: “Experiências na América Latina”
- Iroel Sánchez – blogueiro da página La Pupila Insomne e do sítio CubaDebate (Cuba);
- Osvaldo Leon – editor sítio da Agência Latinoamericana de Informação – Alai (Equador);
- Martin Becerra – professor universitário e blogueiro (Argentina);
- Jesse Freeston – blogueiro e ativista dos direitos humanos (Honduras);
- Martin Granovsky (Página 12 – Argentina));
- Luiz Navarro (La Jornada – México);
* Mesa dirigida por Sérgio Bertoni (blogueiro do Paraná) e Cido Araújo (blogueiro de São Paulo);
14 horas – Painel: “As experiências no Brasil”
- Leandro Fortes – jornalista da revista CartaCapital, blogueiro e da comissão nacional do BlogProg;
- Esmael Moraes – criador do blog do Esmael.
- Conceição Oliveira – criadora do blog Maria Frô e tuiteira.
* Mesa dirigida por Maria Inês Nassif (Carta Maior) e Daniel Bezerra (blogueiro do Ceará);
16 horas – Debate: A luta pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação
– Paulo Bernardo – ministro das Comunicações do Brasil [*];
- Jesse Chacón – ex-ministro das Comunicações da Venezuela;
- Damian Loreti – integrante da comissão que elaborou a Ley de Medios na Argentina;
- Blanca Josales – ministra das Comunicações do Peru;
* Mesa dirigida por Julieta Palmeira (Bahia) e Tica Moreno (blogueiras feministas);
18 horas – Plenária e ato de encerramento
- Aprovação da Carta de Foz do Iguaçu (propostas e organização).
* Mesa dirigida por Joaquim Palhares e Altamiro Borges;
[*] Os nomes com asterisco ainda não foram confirmados.

Liberdade de expressão e os limites democráticos



É um direito de cidadania, mas há limites democráticos
Fátima Oliveira, Jornal OTEMPO 
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Das duas, uma, ou nenhuma: sou insana e quem pensa diferente é saudável; ou sou uma “sana” ilhada – cercada de insanos por todos os lados. Como as duas premissas são impossibilidades, decidi filosofar sobre o furdunço polissêmico em que tentam colocar a liberdade de expressão… Ora, liberdade de expressão não comporta polissemias (do grego poli = muitos e sema = significados)!
A presidente Dilma Rousseff, em discurso nos 90 anos da “Folha”, disse: “A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem. E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas” (FSP, 21.2.2011).
A liberdade de expressão é um direito de cidadania. Há limites democráticos, pois democracia não é anarquia, até para falar, sem que seja, a priori, censura, tal como o senso comum crê: um gesto ditatorial. Em tudo que prejudique direitos humanos de um setor social – caso de publicidade e novelas machistas – cabem limites, isto é, civilidade; e também marketing social.
Quem diz o que pensa, o que quer e quando quer, precisa saber que, numa sociedade democrática e plural, é essencial ter em conta as diferentes moralidades, adotando a prática de deferência à alteridade (colocar-se no lugar do “outro”) ao falar, pois cada pessoa – falo o conceito de pessoa, e não o de seres humanos, pois há seres humanos e pessoas… – é totalmente responsável por seus atos e palavras, inclusive a escrita. Eis os limites.
À ampla liberdade de expressão corresponde absoluta responsabilização pelas opiniões emitidas. Todavia, muita gente, equivocadamente, só entende a liberdade de expressão em sua face direito de dizer – falar e agir como bem lhe aprouver, fazendo de conta que a responsabilidade por palavras e atos significa sempre censura descabida.
A censura não se apresenta abstratamente, pois na real é ela e suas circunstâncias. Pelo nosso passado de uma ditadura militar de triste memória, a tendência de quem ama a liberdade, aparentemente, é a mesma dos que a odeiam: achar que o conceito de censura é sempre aquele que a ditadura militar nos impôs. É uma distorção conceitual.
Os amantes da liberdade, porque foi a censura da ditadura quem usurpou suas vozes e até vidas, e os que a odeiam, muitos coparticipantes dos tempos de arbítrio, porque querem esculhambar, acusar e julgar sem provas pessoas e governos; fazer linchamento moral público, só na base de acusações; e não querem ser chamados à responsabilidade, jamais!
Não é um imbróglio. Tem nome: safadeza conservadora autoritária. E tem sido praticada pelas viúvas e os viúvos da ditadura militar de 1964 e seus sequazes, sempre a postos para confundir pessoas incautas. Quem defende as liberdades democráticas nunca fala a mesma língua de quem um dia sufocou-as, até quando usa as mesmas palavras.
É preciso um razoável repertório de malícia, perder a crença nas pedras de sal, para não ser embromado e apreender que o respeito à alteridade é condição indispensável ao fortalecimento da democracia, que não pode prescindir do controle social e ético da liberdade de expressão ao elaborar um novo contrato social que assegure as liberdades democráticas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um olhar de perto sobre os ativistas de Ocupa Wall Street

Um olhar de perto sobre os ativistas de Ocupa Wall Street

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar. “Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams. O artigo é de Rebecca Ellis, direto de Nova York.

O momento foi perfeito. O primeiro ministro grego George Papandreou cancelou sua visita à Assembleia Geral das Nações Unidas para assegurar um outro empréstimo para o seu país quebrado. Desde o dia 17 de setembro, os manifestantes estão ocupando o Parque Zuccotti, próximo ao coração do mercado financeiro de Nova York, em Wall Street, para protestar contra a dominação das corporações sobre a política.

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Os organizadores do protesto, inspirados pelos eventos em Madri e na Praça Tahrir, chamaram milhares para descerem a Wall Street e protestarem contra a economia, impregnada da política capitalista que fracassou em entregar o que prometeu.

“Os bancos foram resgatados e nós fomos vendidos!”, cantavam os manifestantes, enchendo a Brodway em direção ao parque, passando por vários expectadores nas calçadas, alguns parecidos com turistas, outros, simples observadores curiosos.

A mensagem dos manifestantes ressoaram claramente sobre um pequeno grupo de turistas de Madri, parados ao lado do protesto, mesmo sem entender inglês. Jesus Garcia, um homem de meia idade com óculos e uma câmera no pescoço, estava acompanhado de duas mulheres. Ele disse em espanhol que tinha entendido imediatamente a mensagem o protesto como um reflexo do que tinha visto nas manifestações dos indignados, de 15 de março, na Plaza del Sol, na capital espanhola.

“É como a luta deles [em Madri] contra a pobreza e os empreendimentos bancários, que causaram esta crise, em primeiro lugar. Eu concordo com os manifestantes”, disse Garcia.

Um bombeiro que ajudou a resgatar vítimas dos ataques ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001 falou no sábado (24/09) no protesto. De acordo com outros manifestantes, um pequeno número de ex-banqueiros mostraram seu apoio ao movimento. Isso atraiu poucos observadores e muitos simpatizaram com as demandas dos manifestantes, inclusive os trabalhadores locais, ferreiros e outros empregados. Outros transeuntes, de terno completo, disseram que não estavam a par do que se passava e não podiam comentar.

Alguns pedestres aborrecidos às vezes disparavam comentários contra os manifestantes. Um homem vestido de calça caqui e um parca amarelado disse, aos berros de tocadores de tambor que estavam cantando: “Arrumem um emprego!”.

Muitos manifestantes naquele dia indicaram que gostariam de um emprego.

Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar.

“Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams.

Um homem corpulento na casa dos seus 50 anos estava segurando um incenso de Nam Champa, que, disse ele, “uma garota bonita me deu”. Richard Nash tinha cabelo curto e vestia um boné de baseball. Ele estava enfiado numa jaqueta vermelha e parado na esquina do parque, do lado de fora, observando o que acontecia, com seu companheiro de trabalho, Nick Kaye. Ambos são corretores de seguros que trabalham no Edifício Liberty Plaza. Nash não acredita que o capitalismo desenfreado ou o socialismo puro sejam a resposta. No entanto, estava convencido que o protesto era importante.

“Os manifestantes estão expondo um substrato da realidade”, observou Nash.

Ele reiterou a percepção de incerteza imbuída com uma intuição de que as coisas possam estar mudando. “Eu acredito que estamos na ponta de um iceberg”.

Nash não tinha certeza de para onde o protesto estava indo, mas simpatizava com a garotada da universidade estava na praça expressando suas preocupações, porque muitos, acrescentou, já estão atolados em dívidas e no desemprego.

“Nós deveríamos simplesmente ter empregos decentes para as pessoas decentes...porque tem de haver futuro...”.

Animado pela proposta “taxação Buffet” de Obama, a qual propõe mais impostos sobre os ricos, a discussão rapidamente chegou na dívida nacional. Nash e seu colega Kaye propuseram o ideal americano de todos pagarem a sua parte justa.

“Todo mundo tem de ter sua parte no jogo”, ele disse, referindo-se à necessidade para todos os americanos de contribuírem. Ele acredita que os estadunidenses deveriam ser taxados à proporção de sua renda e local de moradia, porque Nova York é mais cara para viver do que o Alabama. Kaye afirmou que deveria haver um plano de taxação para todo mundo, enquanto ambos concordaram com a máxima: “eliminar as facilidades para os ricos.”

Dois homens estavam deixando um jantar indiano no Nassau/Cedar, um na casa dos trinta anos e o outro, mais velho. Ambos trabalhavam como investidores ao sul de Wall Street. O banqueiro mais jovem, com sua gravata ainda apertada depois de ter feito o que chamou de refeição apimentada, explicou que o problema é maior do que Wall Street e mais complexo do que as manchetes de jornal descrevem.

“Muitos processos se passam nos bastidores”, disse ele. Seu colega mais velho brincou que “Obama deveria taxar os pobres”. 

A segurança era rígida. A legião modelo de banqueiros não estava disposta a aproveitar o dia de verão almoçando em seu lugar habitual do mercado de ações porque o caminho estava bloqueado.

Poonan e Frank, dois manifestantes no começo dos cinquenta, atravessaram as barricadas a pé para espalhar a mensagem e recrutar mais manifestantes. A respeito da solução tributária proposta por Obama, Poonan comentou: “Em vez de vender planos, o que nós de fato precisamos é de uma ajuda honesta. Simplesmente dar dinheiro ao povo, não às corporações”.

Frank, ex-marxista oriundo de um programa de doutorado no College City, disse que a economia dos EUA está sofrendo porque “parou a industrialização e agora está produzindo dívida”. Frank reconheceu que momentos de tumulto, no entanto, trazem à tona períodos de mudança.

“Este é um momento divisor de águas. Os próximos 10 anos devem se mostrar muito interessantes”, acrescentou Frank.

Tradução: Katarina Peixoto