segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Surpresa!


Em 7 de dezembro, um dia após sua festa magna, o excelentíssimo senhor presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do comitê organizador da Copa do Mundo de 2014 tem um compromisso muito importante. Ele deverá se defender das acusações de lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e a Receita, denúncias originárias do Ministério Público do Rio de Janeiro, em maio de 2008. Como todo réu, ele tem o direito de tentar provar sua inocência.
Para seu desgosto, porém, na semana passada a BBC de Londres reverberou uma manchete em que vossa excelência é citada: “O presidente da CBF recebeu pagamentos em uma conta secreta em Liechtenstein de 9,5 milhões de dólares da empresa ISL, entre agosto de 1992 e 28 de novembro de 1997. As remessas seriam feitas com valores de 250 mil cada: 21 parcelas em uma empresa fantasma registrada num paraíso fiscal”.
A acusação foi ao ar no último domingo na Rede BBC e também saiu no prestigioso jornal de Zurique Tages-Anzeiger. A emissora britânica revelou o pagamento de mais de 100 milhões de dólares em propinas entre a ISL e a Fifa, por meio da criação de empresas fantasmas por parte de membros do comitê executivo da entidade.

Em um documento obtido pela BBC, 175 pagamentos de propinas são descritos pela ISL aos membros da Fifa. Parte delas iria para o que a BBC chamou de o “homem encarregado da próxima Copa do Mundo, no Brasil em 2014”. A empresa que recebeu propinas e que aparece na lista revelada ontem é a Sanud, com base no Principado de Liechtenstein, um dos principais paraísos fiscais do mundo, a apenas alguns quilômetros da sede da Fifa, em Zurique. A mesma companhia que a CPI do Futebol no Brasil já havia indicado como tendo participação de Teixeira.
Antes de discutirmos esta, digamos, realidade nacional, recordemo-nos de alguns fatos históricos relacionados ao esporte. Em 1919, oito jogadores do time de beisebol de Chicago foram banidos do esporte por terem vendido resultados de uma temporada inteira para os rivais de Cincinnati em conluio com uma máfia de apostas.
Muitos anos depois, o árbitro alemão Robert Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão por ter manipulado 11 jogos, inclusive alguns da Primeira Divisão alemã – no Brasil o cara só perdeu o emprego e ainda escreveu um livro, felizmente sem sucesso. Seu colega Dominik Marks ficou um ano e dois meses em liberdade condicional. Outros integrantes da máfia alemã de apostas foram punidos com penas de reclusão entre 12 e 36 meses.

Na Itália, um pouco antes do início da Copa da Alemanha, em que a Azzurra sagrou-se campeã, descobriram-se conversações altamente suspeitas, envolvendo várias figuras importantes do futebol do país da bota, principalmente, entre o diretor-geral da Juventus, uma das grandes equipes italianas, Luciano Moggi, e o responsável pelo quadro de árbitros da Federação Italiana de Futebol, Pierluigi Pairetto, onde eles mantinham negociações sobre quais seriam os juízes que deveriam atuar nos jogos da Primeira Divisão. Após a divulgação de trechos das escutas telefônicas onde esses acordos se tornaram públicos, todos os membros do conselho de administração da Juventus apresentaram sua renúncia e o clube foi rebaixado para a Segunda Divisão.
Há uma década, essa CPI instalada em nosso Congresso Nacional revelou que a administração da CBF vinha sendo gerida de forma deliberadamente caótica, afirma o relatório final. Ainda que a entrada de recursos tenha se multiplicado entre 1997 e 2000, período-alvo da investigação, passando de pouco mais de 18 milhões para quase 80 milhões de reais, isso não foi suficiente para evitar que no fim de 2000 houvesse um passivo circulante de 55 milhões mais um prejuízo acumulado de 25 milhões de reais.
Boa parte disso proveniente de empréstimos contraídos com instituições financeiras externas, pagando juros exagerados mesmo para agiotagem pura – chegou a pagar 52% ao ano em dólares, muitas vezes de forma adiantada. De acordo com a Folha de S.Paulo de 20 de abril de 2001, foram pagos, a título de juros e multas, além da correção cambial, perto de 11 milhões de dólares em menos de dois anos e meio.

Surpreende-me que vossa excelência, que adquiriu inúmeros imóveis e veículos nessa época como uma mansão em Búzios, outra em Petrópolis e mais uma em Miami, conforme o programa Globo Repórter tornou público, possa ser tão incompetente com o gerenciamento de uma entidade esportiva enquanto na vida privada tem resultados tão contundentes!

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