sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tesoureiro de campanhas do PSDB é apontado como "artesão" de consórcios da privatização


Por Anselmo Massad, na Rede Brasil Atual
São Paulo – "Homem do caixa" de campanhas do PSDB, Ricardo Sérgio de Oliveira, é apontado como "artesão" dos consórcios da privatização das telecomunicações no país, promovida em 1998, pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Autor do livro "A Privataria Tucana", que chegou às livrarias nesta sexta-feira (9), ele afirma que a costura dos acordos entre empresários envolveu pagamentos de propina da ordem de US$ 4 milhões, em operações que envolvem um primo da mulher do ex-governador paulista e ex-ministro da Saúde e do Planejamento José Serra (PSDB).
O montante rastreado, ainda segundo o livro, teve origem no empresário Gregório Marin Preciado, sócio de Serra em um terreno no Morumbi e primo de Mônica Serra, a esposa. Ricardo Sérgio de Oliveira é apontado como alguém que "conhecia muito a área financeira" por ter sido vice-presidente do Citibank. De 1995 a 1998, ele ocupou a diretoria internacional do Banco do Brasil.
Ricardo Sérgio de Oliveira foi tesoureiro das campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso ao Senado, em 1990 e 1994. Segundo Amaury Ribeiro Júnior, ele teve papel central em dois momentos em que foram promovidos desvios de recursos públicos: o caso Banestado e durante as privatizações. O jornalista atribui a Ricardo Sérgio a criação do modus operandi do envio irregular de US$ 30 bilhões ao exterior pelo banco estadual do Paraná de 1996 a 2000, segundo investigação da Polícia Federal.
Na qualidade de diretor do Banco do Brasil, o tucano assinou portaria que permitiu as contas correlatas entre Brasil e Paraguai. O mecanismo facilita transferências entre contas de comerciantes com negócios nos dois países, mas acabou usado também na "lavanderia do Banestado" por doleiros, segundo Amauri Ribeiro Júnior.
"Nas privatizações, o papel do Ricardo Sérgio era o do cara que ajudava a montar; era o artesão das empresas de telecomunicações", disse em entrevista a Luiz Carlos Azenha, do VioMundo. "Isso fica evidenciado e é o que tem de novo no livro. Ele fazia para receber dinheiro", acusa.
A influência de Ricardo Sérgio decorria do poder que tinha sobre a Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Os fundos de bancos públicos e outras estatais foram centrais para levantar dinheiro para as privatizações – junto de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como a Previ é o maior deles, exerceu um papel de protagonismo.
João Bosco Madeiro da Costa, diretor da Previ, era homem de confiança de Ricardo Sérgio, segundo o jornalista. "Através dele, eram montados os consórcios. Temos documentos oficiais de que ele (Ricardo Sérgio) recebeu propina, por exemplo, de Carlos Jereissati, e também do primo e sócio do Serra, Gregório Marin Preciado, que eles tocaram o consórcio das companhias elétricas da Bahia", afirma.
Jereissati encabeçou o consórcio que venceu o leilão da Telemar. Atualmente ele comanda a BrOi, uma das gigantes do setor. O autor do livro fala em valores de US$ 246 mil e US$ 164 mil. No caso de Preciado, o montante alcançaria US$ 4 milhões, como retribuição à obtenção de crédito junto ao Banco do Brasil, apesar de o empresário estar em situação "falimentar".
A propina foi paga, ainda de acordo com Amauri Ribeiro Júnior, por meio de operações-cabo, transferências a partir de casas de câmbio a empresas de Ricardo Sérgio nos Estados Unidos ou de Ronaldo de Souza, apontado como "testa de ferro" na costura dos consórcios. Souza chegou a ser membro do conselho da Telebras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e morreu em 2010.
Ricardo Sérgio deixou o governo em 1998, em meio à revelação de conversas telefônicas gravadas à época que indicavam a ação de membros do governo para articular consórcios de peso para participar dos leilões de privatização. O país passava por um programa radical de desestatização de empresas. Foi do período a declaração do então presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, de que membros do governo estavam atuando no "limite da nossa irresponsabilidade". Os termos foram gravados em gravações telefônicas não autorizadas judicialmente.
Procurado, o PSDB informou que os membros da direção do partido não se pronunciariam a respeito. Por meio de sua assessoria de imprensa, o partido irá emitir uma nota a respeito. Tanto as privatizações quanto os desvios no Banestado aconteceram durante o governo de Fernando Henrique Cardoso

Nenhum comentário:

Postar um comentário