terça-feira, 31 de maio de 2011

Inglaterra quer adiar eleição e abrir caixa preta da FIFA

Por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada
Saiu na BBC, que, originalmente, divulgou a denuncia do jornalista Andrew Jennings.

A federação inglesa e a escocesa de futebol querem adiar indefinidamente a eleição para presidente da FIFA que deve se realizar nesta quarta-feira, na Suiça.
A Inglaterra decidiu se abster na eleição.
E quer que a FIFA nomeia uma instituição independente para fazer uma auditoria completa nas contas da FIFA (e de seus dirigentes, entre eles, é claro, Ricardo Teixeira).
Como se sabe, um dirigente da federação inglesa contou que Ricardo Teixeira chegou para ele e perguntou o que você tem aí para mim.
A Inglaterra perdeu para a Rússia o direito de sediar a Copa de 2018.
A “absolvição” de Teixeira foi amplamenmte noticiada pela Globo.
É como se a Globo dissesse: o Papa absolve o bispo de pedofilia.
A rede CNN de televisão também tratou longamente da trampa na FIFA.
Mostrou que a FIFA é uma insitutição que tem tudo para estimular trampas: um número pequeno de pessoas decide sobre um volume muito grande de dinheiro: US$ 3,6 bilhões, por ano, segundo a respeitada revista inglesa Economist.
A CNN trata de forma divertida a eleição do que chama de “Santo” Blatter, o suíço que governa a FIFA há 13 anos e quer mais quatro.
O “santo” foi escolhido por Havelange para sucedê-lo na sacra cadeira.
E deixou o genro, Teixeira, de coroinha, bem perto do altar.
A imprensa mundial caiu sobre a eleição da FIFA com apetite.
Aqui no Brasil, caberia instalar a CPI da CBF – II.
À Polícia Federal, dar uma passadinha na CBF.
E o Procurador Geral da República exigir uma auditoria completa nesta instituição que vai realizar (?) uma Copa no Mundo e há 22 anos se movimenta segundo as regras do Imperador Ricardo Teixeira.
O germen da corrupção na FIFA, segundo Andrew Jennings, foi a empresa de publicidde e marketing ISL.
Havelange deu à ISL a exclusividade para venda de direitos de exibição e exploração de publicidade na Copa do Mundo.
A ISL faliu.
Não sem antes subornar Hevalange e Teixeira, segundo Jennings, no livro “Jogo Sujo”, editado no Brasil pela Panda Books, e no documentário da BBC.
Aqui no Brasil, Teixeira cedeu à empresa Traffic de Jota Hawilla uma liberdade de ação identica à da ISL.
O mundo inteiro assiste ao exame do corpo de delito da FIFA e seus santos dirigentes, segundo a CNN.

E aqui ?

Nem com todas letras do alfabeto grego – Alfa, Beta, Gama e Delta – será possivel descrever os feitos de divindades tão poderosas quanto Havelange e Teixeira.
Viva o Brasil !

Globo abafa crise da FIFA

Foi Triesman quem disse que Teixeira perguntou o que você tem aí para mim

Por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada
Amigo navegante mineiro chama a atenção deste ansioso blog para a forma pela qual o G1, o Globoesporte.com e o Bom (?) Dia Brasil tratam do escândalo que enrola a Fifa e Ricardo Teixeira.
Na informação interna não há mais suborno.
O interessante, porém, é a informação que segue a reportagem do Bom (?) Dia Brasil o repórter informa que a própria Fifa considerou Ricardo Teixeira inocente de ajudar a Rússia a derrotar a Inglaterra na disputa pela Copa de 2018.
Como se sabe, um dirigente do futebol inglês disse ao Parlamento inglês que Ricardo Teixeira lhe perguntou o que você tem aí para mim.
A Fifa inocentou Teixeira. 
E a Globo inocentou a Fifa e Teixeira.
É mais ou menos como se o Vaticano inocentasse o Bispo de pedofilia.
Em tempo: o jornal nacional do Ali Kamel não ousou perder tempo com o Ricardo Teixeira. Fez uma reportagem que absolve o presidente da Fifa e sequer mencionou o presidente da CBF. O que seria do Esporte da Globo sem o Ricardo Teixeira ? Ou será o contrário ?

Futebol-poesia: a utopia do Barcelona

Por Felipe Carrilho, no Escrevinhador
Pier Paolo Pasolini falava, nos anos 1970, de um futebol praticado em prosa, o europeu, e de outro jogado em poesia, referindo-se ao sul-americano e, principalmente, ao brasileiro. Era a ideia de que, grosso modo, os europeus exerciam um jogo mais linear e finalista, enquanto os brasileiros jogavam de maneira digressiva e imprevisível.
As recentes apresentações do Barcelona fazem ressurgir as proposições do consagrado cineasta, que também se aventurava no jogo da palavra escrita. Não são poucas as comparações que a imprensa esportiva vem fazendo entre o desempenho do time catalão e a magia do Santos dos anos 1960, de Pelé. O próprio treinador Guardiola já confessou a sua admiração pelo mítico escrete santista. Tostão, companheiro do Rei na Copa de 1970, recentemente escalou o craque Messi na sua seleção mundial de todos os tempos.

Mas os paralelos não devem parar por aí. O impressionante toque de bola do Barcelona remete também à atuação da seleção brasileira de 1982, comandada por Telê Santana. Para quem possa duvidar disso ou achar um exagero, basta acessar, por exemplo, as imagens da partida entre o Brasil e a Argentina, de Maradona, no youtube, para refrescar a memória. Depois de assistir, fica difícil evitar a expressão “futebol-arte”.
Há também exemplos na Europa. Historicamente, o futebol holandês talvez seja o que mais se aproxime do estilo de jogo aberto à poesia no Velho Continente. A profusão de improvisações táticas da seleção de 1974, resultando num futebol envolvente e imprevisível, ainda hoje é referência no esporte, mesmo com o título sendo conquistado pela Alemanha naquela Copa.
Todos os exemplos evocados colocam na marca do pênalti a velha questão do futebol que opõe a plástica do jogo à eficiência, como se o conteúdo de uma ação independesse da sua estética. O sucesso do Santos bi-campeão do mundo e do Brasil tri de 1970 mostram cabalmente a artificialidade ideológica dessa dicotomia. Do mesmo modo que os “fracassos” da seleção brasileira de 1982 e da holandesa de 1974 apenas reforçam a imprevisibilidade do futebol que é, ao mesmo tempo, a sua beleza e o seu veneno.
Para calar rotundamente os críticos do belo, o Barcelona terá de conquistar o Campeonato Espanhol, a Liga dos Campeões e o que mais vier pela frente. Aliar prazer e resultado. Essa é a sua utopia, essa é a verdadeira utopia do futebol.
Felipe  Carrilho é historiador e autor do livro “Futebol, uma janela para o Brasil – As relações entre o futebol e a sociedade brasileira”

Negociação com professores em greve avança


Por Lauriberto Braga, no site da Câmara Municipal de Fortaleza   
“Assim que tiver uma proposta que a categoria considere satisfatória, a greve termina”. A informação é de Ana Cristina, do comando de greve dos professores da Rede Municipal de Ensino de Fortaleza, logo após uma rodada de negociação com os vereadores. A reunião ocorreu na tarde desta terça-feira, 31, na Sala das Comissões da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Os professores estão parados há 32 dias, cobrando a implantação do piso nacional, hoje calculado pelos grevistas em R$ 1.450,00. Querem ainda eleição direta para diretores das escolas, data base em primeiro de janeiro, jornada de trabalho de 40 horas semanais, além do pagamento de quinquênios e de hora atividade.
Segundo Ana Crsitina, “o Governo, agora, realmente abriu a negociação. Está disposto a discutir os encaminhamentos e as propostas. O Governo sinaliza tanto para uma proposta de escalonamento como de um proposta de incorporação. Nós pedimos que o Governo coloque isso no papel para que de uma forma mais concreta a gente possa levar para categorai e ela decidir os rumos do movimento”.
Ana Cristina destaca que as decisões serão tomadas em assembleia. “Levaremos esta proposta para fazer a mediação entre Governo e categoria. E nesse sentido, amanhã (1º), estaremos aqui de novo para uma nova rodada de negociação, quando estas propostas deverão vir de forma concreta, e para uma assembleia com os professores”.
O vereador Salmito Filho (PT) participou da mesa de negociação e sugeriu uma emenda coletiva dos vereadores à mensagem do Executivo: “estamos na negociação tentando viabilizar um acordo, garantindo ganhos para os professores, garantindo o piso nacional e o Plano de Cargos Carreiras e Salários (PCCS)”. Para Salmito, “os professores devem ser garantidos na negociação sem nenhuma perda”.
O vereador Eron Moreira (PV) também esteve na reunião e reforçou a ideia de emenda coletiva:  ”a gente chegou à conclusão de que o melhor é o consenso. Os professores estão com a causa justa. Eles estão neste primeiro instante aceitando alguns pontos colocados pelo vereador Roninaldo Maia, que representa a prefeita Luizianne Lins, e tenho certeza que vai terminar em um final feliz, com apoio da Câmara”.
Ronivaldo Maia, líder do Executivo na Câmara, detalha os encaminhamentos dados após a reunião com o comando de greve. “Saímos muito felizes. Eu penso que já está reestabelecida a normalidade neste Poder, que foi poder receber os professores, como vinha ocorrendo antes.” O vereador ressaltou que a reunião “deixou claro que estava mantida a disposição da Câmara ser mediadora desse impasse”.
Para Ronivaldo, a saída encontrada “é a construção de mediação do real. Nós avançamos na possibilidade, debatendo justamente no desenho legal do que o projeto pode ser emendado. São propostas que a gente pode tornar emendas que tenham apoio na categoria, e que o Governo também se abra, com o nosso aval da Câmara, para construir o entendimento”.
Assim, considera o líder da prefeita, é preciso garantir não apenas os ganhos para os professores, mas também que a Prefeitura tenha capacidade orçamentária para cumprir. “E, o que é melhor, nós normalizarmos as aulas na cidade de Fortaleza, como normalizamos os trabalhos da Câmara nessa terça-feira”, disse.

Desinformação e desrespeito na mídia brasileira

Leiam um excelente artigo produzido por estudantes do curso de Letras da PUC.
Por alguma razão escondida dentro de cada um de nós que escrevemos este texto tivemos como escolha profissional o ensino de língua (materna ou estrangeira). Por algum motivo desconhecido, resolvemos abraçar uma das profissões mais mal pagas do nosso país. Não quisemos nos tornar médicos, advogados ou jornalistas. Quisemos virar professores. E, para fazê-lo, tivemos que estudar.
Estudar, para alguém que quer ensinar, tem uma dimensão profunda. Foi estudando que abandonamos muitas visões simplistas do mundo e muitos dos nossos preconceitos.
Durante anos debatemos a condição da educação no Brasil; cotidianamente nos aprofundamos na realidade do país e em uma das expressões culturais mais íntimas de seus habitantes: a sua língua. Em várias dessas discussões utilizamos reportagens, notícias, ou fatos trazidos pelos jornais.
Crescemos ouvindo que jovem não lê jornal e que a cada dia o brasileiro lê menos. A julgar por nosso cotidiano, isso não é verdade. Tanto é que muitos de nós, já indignados com o tratamento dado pelo Jornal Nacional à questão do material Por uma vida melhor, perdemos o domingo ao, pela manhã, lermos as palavras de um dos mais respeitados jornalistas do país criticando, na Folha de S. Paulo, a valorização dada pelo material ao ensino das diferentes possibilidades do falar brasileiro. E ficamos ainda mais indignados durante a semana com tantas reportagens e artigos de opinião cheios de ideias equivocadas, ofensivas, violentas e irresponsáveis. Lemos textos assim também no Estado de São Paulo e nas revistas semanais Veja IstoÉ.
Vimos o Jornal Nacional colocar uma das autoras do material na posição humilhante de ter que se justificar por ter conseguido fazer uma transposição didática de um assunto já debatido há tempos pelos grandes nomes da Linguística do país – nossos mestres, aliás. O jornalista Clovis Rossi afirmou que a língua que ele julga correta é uma “evolução para que as pessoas pudessem se comunicar de uma maneira que umas entendam perfeitamente as outras” e que os professores têm o baixo salário justificado por “preguiça de ensinar”. Uma semana depois, vimos Amauri Segalla e Bruna Cavalcanti narrarem um drama em que um aluno teria aprendido uma construção errada de sua língua, e afirmarem que o material “vai condenar esses jovens a uma escuridão cultural sem precedentes“. Também esses dois últimos jornalistas tentam negar a voz contrária aos seus julgamentos, dizendo que pouquíssimos foram os que se manifestaram, e que as ideias expressas no material podem ter sucesso somente entre alguns professores “mais moderninhos”. Já no Estado de São Paulo vimos um economista fazendo represálias brutas a esse material didático. Acreditamos que o senhor Sardenberg entenda muito sobre jornalismo e economia, porém fica nítida a fragilidade de suas concepções sobre ensino da língua. A mesma desinformação e irresponsabilidade revelou o cineasta Arnaldo Jabor, em seu violento comentário na rádio CBN.
Ficamos todos perplexos pela falta de informação desses jornalistas, pela inversão de realidade a que procederam, e, sobretudo, pelo preconceito que despejaram sem pudor sobre seus espectadores, ouvintes e leitores, alimentando uma visão reduzida ao senso comum equivocado quanto ao ensino da língua. A versão trazida pelos jornais sobre a defesa do “erro” em livros didáticos, e mais especificamente no livro Por uma vida melhor, é uma ofensa a todo trabalho desenvolvido pelos linguistas e educadores de nosso país no que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa.
A pergunta inquietante que tivemos foi: será que esses jornalistas ao menos se deram o trabalho de ler ou meramente consultar o referido livro didático antes de tornar públicas tão caluniosas opiniões? Sabemos que não. Pois, se o tivessem feito, veriam que tal livro de forma alguma defende o ato de falar “errado”, mas sim busca desmistificar a noção de erro, substituindo-a pela de adequação/inadequação. Isso porque, a Linguística, bem como qualquer outra ciência humana, não pode admitir a superioridade de uma expressão cultural sobre outra. Ao dizer que a população com baixo grau de escolaridade fala “errado”, o que está-se dizendo é que a expressão cultural da maior parte da população brasileira é errada, ou inferior à das classes dominantes. Isso não pode ser concebido, nem publicado deliberadamente como foi nos meios de comunicação. É esse ensinamento básico que o material propõe, didaticamente, aos alunos que participam da Educação de Jovens e Adultos. Mais apropriado, impossível. Paulo Freire ficaria orgulhoso. Os jornalistas, porém, condenam.
Sabemos que os veículos de comunicação possuem uma influência poderosa sobre a visão de mundo das pessoas, atuam como formadores de opinião, por isso consideramos um retrocesso estigmatizar certos usos da língua e, com isso, o trabalho de profissionais que, todos os dias, estão em sala de aula tentando ir além do que a mera repetição dos exercícios gramaticais mecânicos, chamando atenção para o caráter multifacetado e plural do português brasileiro e sua relação intrínseca com os mais diversos contextos sociais.
A preocupação dos senhores jornalistas, porém, ainda é comum. Na base de suas críticas aparecem, sobretudo, o medo da escola não cumprir com seu papel de ensinar a norma culta aos falantes. Entretanto, se tivessem lido o referido material, esse medo teria facilmente se esvaído. Como todo linguista contemporâneo, os autores deixam claro, na página 12, que “Como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes, para que eles tenham mais uma variedade à sua disposição, a fim de empregá-la quando for necessário“. Dessa forma, sem deixar de valorizar a norma escrita culta – necessária para atuar nas esferas profissional e cultural, e logo, determinante para a ascensão econômica e social de seus usuários, embora não suficiente – o material consegue promover o debate sobre a diversidade linguística brasileira. Esse feito, do ponto de vista de todos que produzimos e utilizamos materiais didáticos, é fundamental.
Sobre os conteúdos errôneos que foram publicados pelos jornais e revistas, foi possível ver que, após uma semana, as respostas dadas pelos educadores, estudiosos da linguagem e, sobretudo, da variação linguística, já foram bastante elucidativas para informar esses profissionais do jornalismo. Infelizmente alguns jornalistas não os leram. Mas ainda dá tempo de aprender com esses textos. Leiam as respostas de linguistas tais como Luis Carlos Cagliari, Marcos Bagno, Carlos Alberto Faraco, Sírio Possenti, e de educadores tais como Maria Alice Setubal e Maurício Ernica, entre outros, publicadas em diversas fontes, como elucidativas e representativas do que temos a dizer. Aliás, muito nos orgulha a paciência desses autores – foram verdadeiras aulas para alunos que parecem ter que começar do zero. Admirável foram essas respostas calmas, respeitosas e informativas, verdadeiras lições de Linguística, de Educação – e de atitude cidadã, diga-se de passagem – para “formadores de opinião” que, sem o domínio do assunto, resolveram palpitar, julgar e até incriminar práticas e as ideias solidamente construídas em pesquisas científicas sobre a língua ao longo de toda a vida acadêmica de vários intelectuais brasileiros respeitados, ideias essas que começam, aos poucos, a chegar à realidade das escolas.
Ao final de anos de luta para podermos virar professores, ao invés de vermos nossos pensadores, acadêmicos, e professores valorizados, vimos a humilhação violenta que eles sofreram. Vimos, com isso, a humilhação que a academia e que os estudos sérios e profundos podem sofrer pela mídia desavisada (ou maldosa). O poder da mídia foi assustador. Para os alunos mais dispersos, algumas concepções que levaram anos para serem construídas foram quebradas em instantes. Felizmente, esses são poucos. Para grande parte de nossos colegas estudantes de Letras o que aconteceu foi um descontentamento geral e uma descrença coletiva nos meios de comunicação.
A descrença na profissão de professor, que era a mais provável de ocorrer após tamanha violência e irresponsabilidade da mídia, essa não aconteceu – somente por conta daquele nosso motivo interno ao qual nos referimos antes. Nossa crença de que a educação é a solução de muitos problemas – como esse, por exemplo – e que é uma das profissões mais satisfatórias do mundo continua firme. Sabemos que vamos receber baixos salários, que nossa rotina será mais complicada do que a de muitos outros profissionais, e de todas as outras dificuldades que todos sabem que um professor enfrenta. O que não sabíamos é que não tínhamos o apoio da mídia, e que, pior que isso, ela se voltaria contra nós, dizendo que o baixo salário está justificado, e que não podemos reclamar porque não cumprimos nosso dever direito.
Gostaríamos de deixar claro que não, ensinar gramática tradicional não é difícil. Não temos preguiça disso. Facilmente podemos ler a respeito da questão da colocação pronominal, passar na lousa como os pronomes devem ser usados e dizer para o aluno que está errado dizer “me dá uma borracha”. Isso é muito simples de fazer. Tão simples que os senhores jornalistas, que não são professores, já corrigiram o material Por uma vida melhor sobre a questão do plural dos substantivos. Não precisa ser professor para fazer isso. Dizer o que está errado, aliás, é o que muitos fazem de melhor.
Difícil, sabemos, é ter professores formados para conseguir promover, simultaneamente, o debate e o ensino do uso dos diversos recursos linguísticos e expressivos do português brasileiro que sejam adequados às diferentes situações de comunicação e próprios dos inúmeros gêneros do discurso orais e escritos que utilizamos. Esse professor deve ter muito conhecimento sobre a linguagem e sobre a língua, nas suas dimensões linguísticas, textuais e discursivas, sobre o povo que a usa, sobre as diferentes regiões do nosso país, e sobre as relações intrínsecas entre linguagem e cultura.
Esse professor deve ter a cabeça aberta o suficiente para saber que nenhuma forma de usar a língua é “superior” a outra, mas que há situações que exigem uma aproximação maior da norma culta e outras em que isso não é necessário; que o “correto” não é falar apenas como paulistas e cariocas, usando o globês; que nenhum aluno pode sair da escola achando que fala “melhor” que outro, mas sim ciente da necessidade de escolher a forma mais adequada de usar a língua conforme exige a situação e, é claro, com o domínio da norma culta para as ocasiões em que ela é requerida. Esse professor tem que ter noções sobre identidade e alteridade, tem que valorizar o outro, a diferença, e respeitar o que conhece e o que não conhece.
Também esse professor tem que ter muito orgulho de ser brasileiro: é ele que vai dizer ao garoto, ao ensinar o uso adequado da língua nas situações formais e públicas de comunicação, que não é porque a mãe desse garoto não usa esse tipo de variedade lingüística, a norma culta, não conjuga os verbos, nem usa o plural de acordo com uma gramática pautada no português europeu, que ela é ignorante ou não sabe pensar. Ele vai dizer ao garoto que ele não precisa se envergonhar de sua mãe só porque aprendeu outras formas de usar o português na escola, e ela não. Ele vai ensinar o garoto a valorizar os falares regionais, e ser orgulhoso de sua família, de sua cultura, de sua região de origem, de seu país e das diferenças que existem dentro dele e, ao mesmo tempo, a ampliar, pelo domínio da norma culta, as suas possibilidades de participação na sociedade e na cultura letrada. O Brasil precisa justamente desse professor que esses jornalistas tanto incriminaram.
Formar um professor com esse potencial é o que fazem muitos dos intelectuais que foram ofendidos. Para eles, pedimos que esses jornalistas se desculpem. E lhes agradeçam. E, sobretudo, antes de os julgarem novamente, leiam suas publicações. Ironicamente, pedimos para a mídia se informar.
Nós somos a primeira turma a entrar no mercado de trabalho após esse triste ocorrido da imprensa. Somos muito conscientes da luta que temos pela frente e das possibilidades de mudança que nosso trabalho promove. Para isso, estudamos e trabalhamos duro durante anos. A nós, pedimos também que se desculpem. E esperamos que um dia possam nos agradecer.
Reafirmamos a necessidade de os veículos de comunicação respeitarem os nossos objetos de estudo e trabalho — a linguagem e a língua portuguesa usada no Brasil —, pois muitos estudantes e profissionais de outras áreas podem não perceber tamanha desinformação e manipulação irresponsável de informação, e podem vir a reproduzir tais concepções simplistas e equivocadas sobre a realidade da língua em uso, fomentando com isso preconceitos difíceis de serem extintos.
Sabemos que sozinhos os professores não mudam o mundo. Como disse a Professora Amanda Gurgel, em audiência pública no Rio Grande do Norte, não podemos salvar o país apenas com um giz e uma lousa. Precisamos de ajuda. Uma das maiores ajudas com as quais contamos é a dos jornalistas. Pedimos que procurem conhecer as teorias atuais da Educação, do ensino de língua portuguesa e da prática que vem sendo proposta cotidianamente no Brasil. Pedimos que leiam muito, informem-se. Visitem escolas públicas e particulares antes de se proporem a emitir opinião sobre o que deve ser feito lá. Promovam acima de tudo o debate de ideias e não procedam à condenação sumária de autores e obras que mal leram. Critiquem as assessorias internacionais que são contratadas reiteradamente. Incentivem o profissional da educação. E nunca mais tratem os professores como trataram dessa vez. O poder de vocês é muito grande – a responsabilidade para usá-lo deve ser também.
Alecsandro Diniz Garcia, Ana Amália Alves da Silva, Ana Lúcia Ferreira Alves, Anderson Mizael, Jeferson Cipriano de Araújo, Laerte Centini Neto, Larissa Arrais, Larissa C. Martins, Laura Baggio, Lívia Oyagi, Lucas Grosso, Maria Laura Gándara Junqueira Parreira, Maria Vitória Paula Munhoz, Nathalia Melati, Nayara Moreira Santos, Sabrina Alvarenga de Souza e Yuki Agari Jorgensen Ramos– formandos 2011 em Letras da PUC-SP, futuros professores de Língua Portuguesa e Língua Inglesa.

Do Brasil Nordeste Reencontrando-se com pressa



Fonte: The Economist

Região mais pobre do país é reduzir a distância com o sul próspero








Em 1983, Jornal do Brasil , um jornal no Rio de Janeiro, enviou um repórter para o norte do Brasil-leste para cobrir uma seca. Ele encontrou famintos residentes comer ratos e lagartos. Desde então, o país tem feito progressos. No entanto, o Nordeste continua sendo a região mais pobre do Brasil: tem 28% das pessoas do país, mas apenas 14% do seu PIB. Um quinto dos adultos da região são analfabetos, o dobro da taxa nacional. E que detém mais da metade dos brasileiros 16m que vivem com menos de 70 reais (43 dólares) por mês. Durante décadas, tem exportado os trabalhadores para as cozinhas e locais de construção das cidades ricas no Sudeste.
Recentemente, no entanto, o Nordeste tornou-se astro econômico do Brasil. Na última década, o PIB da região aumentou 4,2% ao ano, em comparação com 3,6% para o país como um todo. No ano passado, a economia pernambucana cresceu a-como a China 9,3%.
Bolsa Família, muito elogiado Luiz Inácio Lula da Silva esquema anti-pobreza, tem sido importante, diz Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, um instituto de pesquisa. Mas outras políticas do governo têm ajudado mais. Três quartos do crescimento da renda desde 2003, quando Lula se tornou presidente, vieram de receitas, não apostilas. Em termos reais o salário mínimo aumentou em cerca de 60% face ao período homólogo, com os maiores benefícios sentidos no Nordeste. O instituto avalia que o Crediamigo, o Banco estatal do programa Nordeste do micro-crédito, levantou mais de 1 milhão de norte-leste para sair da pobreza.
O poder de compra da região recém-descoberta está a atrair empresas. No início deste mês Kraft Foods abriu sua primeira fábrica na área, fazendo chocolate e bebidas em pó. Sudene, uma agência governamental de desenvolvimento regional, ajudou a financiar 52 shoppings no Nordeste desde 2006. E migrantes do nordeste estão voltando para casa para trabalhar. Pão de Açúcar, uma cadeia de supermercados, está se expandindo na região, oferecendo os nativos norte-oriental de trabalho nas suas lojas outros a chance de transferência.
"Agora, o Nordeste é um grande canteiro de obras", diz Fernando Bezerra Coelho, o ministro da integração federal. O governo está investindo pesadamente em obras públicas, incluindo o alargamento da estrada costeira do Atlântico. Mas a principal fonte de crescimento é o porto e complexo industrial de Suape, que está sendo ampliado para receber navios maiores. Uma planta petroquímica, o maior estaleiro do hemisfério sul e uma refinaria da Petrobras, empresa petrolífera controlada pelo Estado, estão em construção. Mais de 100 empresas se mudaram para lá, atraídas por incentivos fiscais eo que deve ser excelentes ligações de transportes. Fiat está investindo R $ 3 bilhões em uma fábrica de automóveis nas proximidades.
Em 2013, se tudo corre de plano, uma nova ferrovia ligará Suape para o interior do Nordeste (veja mapa). O governo federal começou a construir em 1990, mas parou por falta de dinheiro e só recomeçou em 2006. Um segundo ramo vai viajar para o norte até o porto de Pecém, que também está sendo expandido. Lá, o governo do estado do Ceará é a criação de um instituto para treinar 12 mil trabalhadores por ano, a Petrobras está construindo uma nova refinaria. Paulo Roberto Costa, o seu director a jusante, prevê trens, levando soja, milho e minério de ferro do interior para os portos e retornando com óleo. Os tempos de viagem à Europa e América serão três ou quatro dias a menos que a partir dos portos do Sudeste. A linha de 1,728 km, irá um dia levar 30 milhões de toneladas de carga por ano.
A Odebrecht, empresa brasileira de construção da ferrovia, recentemente voou com seu correspondente para Salgueiro, onde seus dois ramos costa-bound cumprir. A linha de 3m de travessas de betão estão a ser lançados lá, e do lastro sobre o qual eles irão mentir é extraída nas proximidades. Paulo Falcão, o diretor do projeto, está preocupado com um problema novo para o Nordeste: a falta de trabalho. Apesar da palavra dos grandes projectos espalhados pelo Nordeste está atraindo trabalhadores de todo o país, a procura é tal que a Odebrecht está treinando todos dos carpinteiros e pedreiros para motoristas e operadores de empilhadeira em si. Alguns não têm nenhuma experiência em construção anterior. Um quinto dos trabalhadores no Salgueiro são mulheres.
"A China é agora o Japão dos anos 1960", diz Eduardo Bartolomeo, diretor de logística da Vale, uma empresa mineradora. Nessa época o apetite do Japão para os metais financiado grandes investimentos da Vale no transporte ferroviário e marítimo. Hoje a fome da China por minério de ferro paga para seus projetos de infra-estrutura. Até 2015 Ponta da Madeira, porto privado da Vale, será o maior do Brasil em tonelagem, a exportação de 230 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A estrada de ferro da mina de Carajás, no Estado do Pará para o cais está sendo atualizado para levar trem com 330 carros, cada três quilômetros de comprimento, com um custo de 4,5 bilhões de reais.
Os benefícios, diz o Sr. Bartolomeu, vai além de mineração. Ele aponta para a ferrovia Norte-Sul como prova. Desde 2007, quando a Vale começou a operar a linha, a produção de soja na região do entorno aumentou 8,5% ao ano, eo preço da terra mais do que duplicou em alguns lugares.
O ritmo acelerado de desenvolvimento da região, combinada com seu novo trabalho 'músculos flexores, levou a algumas greves. A tensão também é evidente nos engarrafamentos e aumento dos preços da habitação. No Ceará, Adail Fontenele, o secretário estadual de infra-estrutura, diz que os municípios do entorno do Pecém estão preocupados em encontrar casas para os novos trabalhadores da cidade. Se alojamento decente não é construído rápido o suficiente, favelas podem surgir em seu lugar.
O maior risco é que a região não consegue resolver a sua fraqueza outros de longa data: baixa escolaridade. "Temos visto booms infra-estrutura no Nordeste antes, e eles nos ajudaram a alcançar", diz Alexandre Rands da Datamétrica, empresa de consultoria. "Mas nos últimos 60 anos têm demonstrado que infra-estruturas não é suficiente." As grandes empresas estão treinando os trabalhadores de que necessitam. Mas o Nordeste gasta menos nas escolas que a média nacional, e tem professores mais fracos. Se a sua próxima geração é beneficiar plenamente do que hoje é a construção, as escolas da região deve receber um upgrade também.