Por Luana Santos, no sitio Vi o mundo
Quem acompanha com freqüência o Viomundo deve ter visto os vários posts sobre a greve dos profissionais da educação de Minas Gerais, que hoje completa 36 dias. Até o momento, além de Minas, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte permanecem em greve.
Como já foi dito pelos meus colegas que aqui deixaram seus escritos, a situação dos professores mineiros não difere muito da denunciada em vídeo pela professora potiguar Amanda Gurgel no mês de maio. Além dos baixos salários, convivemos com jornadas extenuantes, condições precárias de trabalho e o que pouca gente sabe, é que a cada dia aumenta o número de trabalhadores afastados das salas de aula por problemas emocionais e psicológicos.
Na terça-feira a greve ganhou um novo capítulo. Não sei se para ser lembrado ou esquecido. Um grupo de professores ao ser impedido de realizar uma assembléia nas dependências da Cidade Administrativa, sede do governo estadual, fechou a Linha Verde, via de acesso ao aeroporto Tancredo Neves (em Minas, os Neves estão por todos os lados, assim como os Magalhães na Bahia e os Sarney no Maranhão). O que se viu foi o quanto os resquícios da ditadura permanecem vivos por essas bandas.
A Tropa de Choque agrediu os professores com cassetetes e usou gás de pimenta para dispersar os manifestantes. Não é necessário dizer muita coisa, as imagens falam por mim:
No dia seguinte, como tem acontecido desde o início do movimento, cerca de 5 mil professores reuniram-se no pátio da Assembléia Legislativa. Antes de me juntar aos companheiros de profissão, caminhei pelos corredores da Casa. Em um dos gabinetes, duas mulheres conversavam animadamente, enquanto um rapaz debruçado sobre uma mesa dormia um sono profundo. Realmente alguns escritores são atemporais. Tive a sensação de estar diante das repartições públicas narradas por Lima Barreto e Graciliano Ramos durante as primeiras décadas da República.
Em seguida, caminhei até o refeitório. Sentei próxima a um grupo de professoras. Deduzi que elas vinham de longe, pois traziam o almoço em marmitas. Descobri que eram de Ituiutaba, cidade que fica a 700 km de Belo Horizonte. Perguntei o que as levaram viajar quase 12 horas de ônibus somente para participar da manifestação. Recebi uma resposta sem meias palavras: “Luto pela minha dignidade”. Diante de tantas indagações uma delas perguntou em qual jornal eu trabalhava. Achei graça. Expliquei que a imprensa mineira dificilmente noticia qualquer coisa que arranhe a imagem do governo tucano. Por aqui são muitos os fantasmas dos anos de chumbo a nos perserguir.
Deixei as dependências da Assembléia e no meio da multidão encontrei uma amiga dos tempos da faculdade. Recebi notícias de algumas pessoas que formaram conosco. Joana montou uma loja de bijouterias, Ana trabalha em uma empresa de equipamentos de segurança, Adriana vende produtos de informática e André atua na área de consultoria. No frigir dos ovos, apenas 5 ou 6 lecionam. Está explicado o motivo do esvaziamento dos cursos de Licenciatura. É muito difícil permanecer numa profissão cujo piso salarial básico é de R$ 550,00.
As pessoas costumam dizer que o mineiro “come queto”, é receptivo e desconfiado. Acrescento que também somos criativos. Em um dos cartazes de protesto, a sigla do PSDB ganhou um acróstico – Pior Salário Do Brasil. Em outro, Anastasia é “Procurado”.
Desde que os setores da educação, da saúde e da segurança entraram em greve, tornou-se muito difícil ter notícias do governador. Morto ele não está. Apareceu no velório de Itamar ao lado de Aécio e Serra. Vez por outra inaugura uma obra nas cidades do interior. O afilhado de Aécio não faz outra coisa além de preparar o terreno para o p adrinho. E olhem que ainda faltam 3 anos para 2014.
A noite de ontem foi longa. Eram 2 da manhã desta quinta-feira, 14 de julho, e ainda havia professores reunidos no plenário da Assembléia Legislativa. O objetivo era obstruir a pauta dos deputados e com isso impedir o recesso parlamentar. Missão cumprida! Durante esses 36 dias de paralisação, Anastasia e sua base de apoio foram omissos às nossas reivindicações.
Com a desenvoltura de um ator de novela das 8, nosso governador usou a televisão, o rádio e os jornais para tentar desmoralizar um movimento que é legítimo. Em momento algum, Anastasia sinalizou que irá cumprir o que nos é de direito: o pagamento do piso nacional determinado pelo Governo Federal que é de R$ 1.187,97. O valor é praticamente o dobro do que é pago atualmente. Continuam insistindo na política mentirosa de subsídios. Exigimos também a criação de um plano de carreira que valorize a nossa profissão.
Em resposta ao total descaso do governo com a educação, decidimos permanecer em greve por tempo indeterminado. Como disse a professora de Ituiutaba, lutamos pela nossa dignidade.
Luana Diana dos Santos é cronista, historiadora e professora da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais.
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