terça-feira, 19 de julho de 2011

REPÓRTER ACUSA A REDE GLOBO

No portal Direto da Redação

A jornalista Cristina Guimarães, da Rede Globo de Televisão, prestou depoimento em sessão especial do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no último dia 9 de julho sobre a ação trabalhista que move contra a emissora sob o argumento de que esta não lhe deu proteção de vida quando passou a ser ameaçada por narcotraficantes da Rocinha depois de fazer a matéria “Feira das Drogas” veiculada no “Jornal Nacional” em agosto de 2001. Naquela ocasião Cristina trabalhou em parceria com o repórter Tim Lopes - assassinado mês passado na favela de Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão – e com ele dividiu o Prêmio Esso de Jornalismo do ano passado. Cristina trabalhou 12 anos na emissora, sendo seis deles no “Jornal Nacional”, depois de passar pelos núcleos do “Fantástico” e do “Globo Repórter”. 

Atualmente Cristina está afastada do dia-a-dia da profissão, vive escondida fora do Rio de Janeiro e depende da ajuda da família e dos amigos para se manter. Segundo ela, as ameaças dos narcotraficantes da Rocinha começaram pouco depois da matéria “Feira das Drogas” ir ao ar. Ela pediu providências aos seus chefes na Globo mas como nada foi feito, segundo ela, apesar de reiteradas gestões, decidiu se afastar da emissora e processá-la. Ela relatou que por causa da matéria “Feira das Drogas” foram identificados e presos 18 traficantes na Rocinha e 11 no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. 

Equipada com uma micro-câmera Cristina Guimarães filmou traficantes vendendo drogas publicamente dentro das favelas da Rocinha e da Mangueira; dando continuidade a série de reportagens veiculadas no “Jornal Nacional” que começou com uma matéria de Tim Lopes mostrando a “Feira das Drogas” no Complexo do Alemão. Agora no início de junho, no mesmo Complexo do Alemão, numa outra reportagem investigativa – esta sobre sexo e drogas em bailes funk – Tim Lopes foi aprisionado, torturado e morto pelos traficantes da quadrilha de Elias Maluco. 



CRISTINA GUIMARÃES - Vou tentar ser o mais clara possível. A minha estória começa no dia 08 de agosto de 2001 quando a Márcia Monteiro chegou para mim, na redação da TV Globo, e perguntou se havia visto a matéria do Tim Lopes sobre a venda de drogas no Morro do Alemão. Disse que sim, que era uma coisa que todos já conheciam, a feira das drogas, e era um trabalho muito arriscado tentar mostrar isso ao público, já que era tão comum. Ela me disse que queria que eu fizesse outras matérias, que continuasse a reportagem sobre as feiras de drogas. Disse a ela que seria muito perigoso porque os traficantes já sabiam que aquilo tinha sido denunciado, que eles estariam com o pé atrás e com certeza com muito mais olheiros. Ela olhou para a redação e disse que a única pessoa que poderia fazer, além do Tim, seria eu. E já que o Tim estava de férias... Expliquei a ela que teria que fazer uma cirurgia no dia 13 de agosto e como o Tim tinha tido uma semana para fazer a matéria, eu só teria três dias, portanto seria bem complicado. Na verdade, eu estava com medo... 

- ...Nós, jornalistas, temos a obrigação de dizer a verdade... De passar a verdade... A verdade é que na hora, qualquer dos produtores e jornalistas na redação, estaria sofrendo perigo porque já havia sido mostrada a feira. Mas ela me disse que não, que eu era a pessoa mais competente para fazer isso e que ela e o César (Seabra) estariam me mandando fazer a matéria. E que eu teria que fazer a mesma coisa que o Tim fez. O Tim levou uma semana para fazer o Morro do Alemão: ele fazia as imagens, voltava, mostrava para o César e para Márcia. Se não estivessem boas, ele voltava lá e fazia novamente. Essa era a minha obrigação. Por isso eu entrei três vezes na Mangueira e duas vezes na Rocinha. 

No mesmo dia 8 pedi um motoqueiro ou um motorista para que pudesse ver se estava acontecendo a feira; e o C... foi comigo, ele foi designado para ir comigo. Nós demos uma volta pela Mangueira e vimos que a feira continuava. Voltei para a redação e disse que só faria a matéria se fosse com um motoqueiro, porque de carro era muita ‘bandeira’. Não é fácil, não tenho cara de favela... Mas na hora do nosso trabalho a gente não pensa nisso... Eu marquei para o dia 9 começar a matéria Era até o dia de jogo do Brasil. Saí da redação por volta das 14, das 14h40m, com um motoqueiro que estava com medo, o G..., porque o motoqueiro que tinha sido designado para sair comigo era o P... . Mas o P... começou a chorar, dizendo que não iria, que ele conhecia as pessoas da Mangueira, que era um perigo para mim e para todo mundo depois da matéria feita pelo Tim... Mas o G... foi obrigado a ir comigo. Montei a micro-câmera – que monto e desmonto, assim, todo o equipamento, toda a base... Porque... As quatro vezes que estive no Irã-Iraque... Fazendo... Eu montava o equipamento de telecomunicação da Mendes Júnior... E montava também os equipamentos de telecomunicação da Odebrecht... Então eu estive duas vezes no Iraque, estive duas vezes no Iraque no acampamento, pela empresa Micro Mídia – que era uma contratada da Mendes Junior e da Odebrecht. Falei com eles novamente que era muito perigoso, mas eu iria. Já que não tinha mais ninguém na redação para fazer. As duas pessoas do ‘Jornal Nacional’ que faziam investigação éramos eu e o Tim. Esporadicamente saía (inaudível)... Nós entramos na favela na hora do jogo do Brasil e eu parei em um botequim, numa birosca, a 30 metros da boca. Em frente a escola municipal que existe na Mangueira. Fiquei fazendo lá a “feira das drogas”, durante duas horas e meia e, na saída, como estava muito apavorada e nervosa - eu e o G... resolvemos parar em um bar em frente a UERJ, para fazer hora para que a Márcia não mandasse que voltássemos de novo. Chegamos na redação por volta das oito horas, o “Jornal Nacional” já estava no ar, e mostrei o que nós tínhamos feito. E a Márcia disse que precisava de outra... De outra... Favela... Precisava de mais imagens porque nas imagens que eu tinha feito os traficantes estavam muito distantes. Que eu tinha que ir até a “boca”. 

No dia seguinte, marquei para sair às 14 horas, mas o G... não apareceu. Ele passou mal e depois soube que ele foi até obrigado a assinar advertência por não ter ido trabalhar. Quem foi escalado foi o K... , Z... K... . Nós voltamos na favela da Mangueira, subimos novamente, mas só que desta vez subimos com a moto do K... . Paramos em frente a birosca, ficamos tomando cerveja até que eu criei uma coragem que não sei de onde tirei, que hoje também não tenho, para chegar até a ‘boca’. É nesse momento, que até está editado na matéria, que o traficante me expulsa do local, dizendo que na “boca” não se pode beber. Nós... Nesse momento... Eu e o Z... pensamos que íamos morrer. Estávamos no meio da “boca” e o cara olha para você e diz que na “boca” não pode beber e grita desce! Desce! Você já se imagina defunto, ou alguma coisa parecida. Nós descemos, voltamos para a birosca a 30 metros, eu permaneci na favela mais duas horas e meia para não dar bandeira. Para que os traficantes não ficassem desconfiados de nosso movimento. Paramos novamente no boteco em frente a UERJ, nosso ponto de encontro, liguei para a Márcia Monteiro. E ela mandou um motoqueiro resgatar a fita. Esse motoqueiro era o P... , levou a fita para a redação e eles me cobraram a outra favela. Porque sem outra favela não tinha matéria! Que o Tim já tinha feito o Alemão! Que eu tinha que fazer duas! Para mostrar que a venda continuava! (...) Eu ia para a Cidade de Deus, porque sabia que lá teria outra “feira”. Mas o K... argumentou que se fossemos para a Cidade de Deus, ficaria muito escuro - já estava escurecendo - que fossemos então para a Rocinha. (...) Assim que entrei na Rocinha, vimos eles. Eles ficam exatamente na Via Ápia, ali na entrada. Nós paramos a moto em frente a sorveteria, fizemos as imagens todas... Passou-se a negociação... Eu fui comprar uma meia para poder disfarçar... Sentei no bar, fiquei mais duas horas e pouco na Rocinha. Quando chegamos na emissora o “Jornal Nacional” já tinha terminado. Eu levei a micro-câmera... A micro-câmera é uma caneta, mas o gravador é pequenininho, fica dentro de uma pochete onde tem um visor. Eu entrei na redação, pedi para o K... esperar e fui até o César Seabra e a Márcia Monteiro, mostrar as imagens. Eles acharam que as imagens estavam muito escuras e que eu teria que fazer de novo. Era sábado, eu estava de plantão e até estrilei: Eu até estou de plantão, mas o que já tem já vale! Vocês já tem tudo! Já vale! Não posso ficar assim me expondo dessa maneira! Eles me disseram: “Não, não, não esquenta a cabeça. Você já derrubou tanta gente vai ter medo agora de um traficantezinho. Amanhã você volta, você pega as sete e depois, quando terminar, você volta que no domingo eu te dou folga. Você vai operar na segunda”. 

Pois bem, retornei a emissora às sete da manhã de sábado, dia 11 de agosto. E fiz tudo que tinha que fazer. Fui para... Esperei o K... chegar, ele se atrasou porque também estava com muito medo - já que a esposa dele e a sogra moravam na Rocinha... Mas voltamos... Voltamos a Rocinha e ele me deixou em frente a sorveteira... E desta vez nós entramos pela Marques de São Vicente, não pela auto-estrada Lagoa-Barra. Ele me deixou bem em frente a Via Ápia, porque não tinha movimento. E até estranhou porque não tinha venda... Nós estávamos estranhando porque não tinha venda... Quarenta minutos depois, vi a favela inteira correr para o asfalto e fui para o asfalto também, ver o que era. Era uma batida com um carro importado onde tinham duas meninas muito nervosas porque tinham batido ali, em frente Rocinha. E a polícia estava lá. O Z... voltou, me encontrou e avisou que a polícia estava cercando a favela.. E disse para sairmos pelo outro lado, sair pelo valão. Fomos em direção ao valão. Nesse meio tempo vem a sogra, a esposa dele e a policia. Nós entramos num boteco perto do valão e liguei imediatamente para o Marcelo Moreira. Mais ou menos entre três e meia e quatro horas da tarde. Avisei: Marcelo a policia está aqui, não tem “feira”, está muito perigoso porque... Isto aqui vai dar merda, desculpem o termo. Ele me respondeu: “Não, você tem que terminar isso, sem as duas favelas não adianta, não vai ter matéria”. Eu respondi: Olha, vou operar, cara, o que já tem (de imagens) - já é o suficiente. Ele respondeu de novo: “Não, não. Fique aí que a policia vai sair e vai recomeçar a “feira”. Fiquei. Avisei ao motoqueiro, muito zangada, que teríamos que ficar mais tempo lá. Nós ainda rodamos a favela durante um bom tempo, agora com a esposa do K... que fiz de escudo, pois estava grávida. Ficou parecendo que ela era minha amiga já que era moradora... Era! não é mais! Voltamos para a sorveteria em frente ao ponto de venda de drogas e ficamos lá até oito horas da noite. Retornei a redação extremamente zangada. Larguei o equipamento na UTJ e a fita na mão do Marcelo (Moreira) dizendo que era aquilo que se tinha, não poderia fazer mais. Porque ia operar. E fui embora. 

s Só retornei a emissora no dia 12 de setembro, no auge do atentado contra o World Trade Center. E assim que entrei naquele corredor imenso, o A... , que é assistente de estúdio e mora na Rocinha, me empurrou para a parede e disse: “Cristina, quero falar contigo: vocês pegaram muito pesado e os traficantes já botaram em cima da mesa um monte de dinheiro para nós, moradores da Rocinha, dizermos quem fez as imagens. Por conta do que você fez, 15 pessoas já foram presas”. Entrei na redação, fui direto na Márcia Monteiro, minha chefe. E disse: “Márcia, minha cabeça está a prêmio, os meninos, o A... , me disse agora que negou, na Rocinha, que conhecesse quem fez a matéria. Disse que tinha vindo uma equipe de São Paulo e que ele desconhecia o assunto.” Ela disse para que eu não esquentasse a cabeça, e argumentou: “Você já fez tantas matérias de denúncia, porque vai ficar medo agora?” Naqueles dias, naquela coisa do World Trade Center, todo mundo estava preocupado com aquela matéria (“Feira das Drogas”).

Recomecei a trabalhar, continuei fazendo minhas matérias, produzindo minhas matérias. Mais ou menos um mês depois, fiz uma outra matéria de denúncia – a de um garoto, assistido da Defensoria Pública, contra o coronel Lenine. Que ele, garoto, fazia o pagamento de propinas do Celsinho da Vila Vintém para o coronel Lenine. Fui sem equipamento na Defensoria porque só queríamos saber a verdade, se o garoto estava falando sério ou não. Entrei na Defensoria Pública, estavam todos sentados, os defensores, o garoto ficou olhando para o meu rosto o tempo todo. Depois de meia hora ele perguntou se poderia falar comigo. Eu disse que sim. A defensora que trata das crianças presenciou tudo e outros defensores também. “Tia, você estava na Rocinha, com uma bermuda azul marinho e dois celulares? Eu falei que você era ‘bandeira’ e a sua cabeça está tão a prêmio, quanto a minha. Só falo com você porque estamos mortos e você é uma mulher de coragem.” Naquele dia ficamos até as cinco horas da manhã na emissora. Não sei se vocês se lembram, mas o Lenine foi exonerado, depois voltou. Aquela bagunça toda... Cheguei na redação, chamei a Márcia e disse que ia tomar providências, porque o garoto tinha me dito isso. A Márcia Monteiro disse: “Não, não tem problema!” E fiquei cada vez mais apavorada.

No dia 20 fui para Belém fazer uma matéria para o “Fantástico” sobre prostituição infantil. Eu e o Fernando Molica. No meio dessa coisa até me ligaram porque estavam escrevendo a matéria ‘Feira das Drogas” para o Prêmio Esso... Quando voltei, no dia 25, eu estava de plantão. Voltei dia 24 de outubro porque nos dias 25 e 26 estava de plantão na redação. No dia 25 a tarde eu abri a “Folha de São Paulo”, na Revista da TV, e havia uma nota dizendo que um funcionário da Rede Globo havia sido seqüestrado para dizer quem tinha feito as imagens da matéria “Feira das Drogas”. Não conheço esse menino, nunca o vi, mas cheguei na segunda-feira e perguntei ao Ricardo Rodrigues e a Márcia Monteiro. Primeiro ao Ricardo: “Você viu isso aqui?” E ele: “Ah! Cristina, eu vi sim. Tanto que saiu no JB e no Dia”. Falei com a Márcia, mas ela disse que era invenção, que esse menino no mínimo tinha dado um “banho” no tráfico - que ele estava inventando a história... Eu já não estava mais em condições de saber o que era verdade e o que era mentira... E como é que esse garoto, se tivesse mesmo dado um “banho” tráfico, continuava sendo funcionário da Rede Globo já que outros foram mandados embora por ficarem pegando “baseadinhos”? 

O tempo passou e comecei a ficar em estado de choque... Porque você fala com uma pessoa que é da sua chefia, fala com outro, que também é da chefia. e ninguém te dá ouvidos? Acha que só porque você fez duzentas e tantas matérias, ou porque você é isso, ou aquilo, que você vai se defender? Que você pode, que a TV Globo pode tudo? Pode? Ao sermos jornalista é muito importante passarmos a verdade... Mas não somos heróis! Ninguém aqui é dono da verdade ou super herói! Esse rapaz foi seqüestrado a 50 metros da porta da TV Globo! Eu tenho aqui o depoimento dele, porque logo depois que entrei na Justiça do Trabalho... Eu não estou pedindo indenização... Não estou pedindo nada! Estou pedindo os meus direitos porque não fui protegida! Até hoje eu não sou protegida! Não estou pedindo nada mais do que acho que seja meu direito! O direito de uma pessoa que ficou sabendo que a sua vida está em jogo através da nota em um jornal de outro Estado! (pausa, voz embargada).

Bem, depois de tantas iniciativas e tentativas para que alguém me escutasse – eu procurei a minha advogada - e exatamente do escritório dela, mandei um e-mail para o Schoreder(Diretor de Jornalismo da Rede Globo) que está aqui e que quero que depois vocês leiam. Nele descrevi tudo o estava me acontecendo. E ele respondeu, pedindo desculpas de estar numa reunião de acionistas, de não me responder antes, mas que seria marcada uma reunião com outro departamento para tomar ciência do meu assunto... 

Muito triste eu fiquei, felizmente outras pessoas me ouviram e eu consegui me afastar (inaudível)... É muito doloroso para mim dizer que me afastei do que eu mais gostava de fazer... (pausa) Eu amo ser jornalista! Mas não vou ser mais... (voz embargada) (pausa) Desculpem (pausa)... Não posso mais contar a verdade porque as pessoas me chamam de maluca... Fui embora, tive o apoio do governo americano e inclusive está no site americano toda essa minha história confirmada.

Quando eu soube no dia 2, quando uma repórter do JB ligou para mim, que o Tim tinha desaparecido... Não dá para ter idéia... Se vocês pudessem pensar 30 segundos o que se passou na minha cabeça... Não dá para ter idéia... Eu me senti... Durante algum tempo - eu me senti muito culpada... Porque, eu podia ter gritado mais... Talvez se eu tivesse ido para a porta da TV Globo... Talvez não tivesse acontecido tudo isto... O Tim sabia de tudo isso porque ele recebeu os documentos. É muito triste para mim saber que nós jornalistas - pessoal que trabalha na televisão, no rádio - viramos reféns também... Reféns de uma verdade que está ai... Eu agora aguardo a sentença do juiz do trabalho, não moro mais no Rio – e se depender de mim, nem mais no Brasil eu quero ficar... Sou uma pessoa disposta a contar isto porque esta é a minha verdade... E quando você tem uma verdade, você morre por essa verdade. E mais triste ainda você fica quando vê que um amigo seu morreu (pausa)... 

Eu espero que - já que eu não posso mais ser jornalista - que vocês todos, meus amigos de trabalho, continuem batendo nesta tecla. Porque nós estamos vivendo numa guerra... Isso para mim já não é mais Angola, nem Irã-Iraque - isto aqui já é uma guerra civil onde o jornalista que sempre teve o apoio, a obrigação de contar, está morrendo... Está morrendo... Eu acho que... O que acontece... Infelizmente vou ter que dizer isto a vocês: eu denunciei isso há oito meses. Demorou para vocês me encontrarem e ouvirem... Estamos falando tarde demais... Porque eu não tive o apoio de ninguém! O único apoio que eu tenho é de mim mesma. E de alguns amigos que ainda ligam para saber como eu estou... 

Não estou contra e TV Globo, não estou contra ninguém. Estou contra, sim, é contra essa violência que está esmagando a população. Não só as pessoas simples, o povo que vive nas favelas, mas as pessoas da Zona Sul. Nós temos obrigação de falar, todos aqui tem a obrigação de pensar que o Tim podia não ter morrido se tivessem escutado a minha história. Outros poderiam não morrer. Mas hoje você pode morrer até no sinal, num assalto. Acho que temos que pensar um pouco mais no que é cidadania, no que é jornalismo - antes de mais nada. Eu queria que vocês soubessem que esta semana, ontem, eu fiquei sabendo que o Tim foi quatro vezes à favela. Talvez ele não tenha tido o mesmo apoio, como eu não tive. Eu não tive apoio nenhum...

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