segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ‘Disneylandia’ do filho de FHC

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

Post publicado, originalmente, em 31 de julho de 2011 às 12:57
Este post foi publicado em 31 de julho deste ano e fez uma denúncia que hoje, 14 de novembro, vem à tona no jornal Folha de São Paulo, mas só após o governo ter aberto investigação sobre a esquisita sociedade do filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique Cardoso, com o grupo Disney.
Abaixo, a matéria que saiu hoje na Folha e, em seguida, o post que este blog publicou em 31 de julho e que foi a primeira matéria jornalística a fazer a denúncia.
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FOLHA DE SÃO PAULO
Governo apura sociedade de filho de FHC na rádio Disney
14 de novembro de 2011
Ministro diz ter recebido informação de que grupo dos EUA comanda emissora
Paulo Henrique Cardoso não quis comentar o assunto, e o grupo americano afirma que o responsável é brasileiro
ELVIRA LOBATO
DO RIO
O Ministério das Comunicações investiga se o grupo americano Disney ABC -um dos maiores conglomerados de entretenimento do mundo- controla ilegalmente a rádio Itapema FM, de São Paulo, que usa o nome fantasia de “Rádio Disney”.
A emissora pertence a Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em sociedade com a Disney. Oficialmente, Paulo tem 71% da emissora, e a Disney estaria dentro do limite de 30% de participação estrangeira permitido pela Constituição.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que o envolvimento do filho do ex-presidente não influenciou na investigação.
Procurado pela Folha, Paulo Henrique não quis dar entrevista, e delegou à Disney esclarecer sobre a gestão. O grupo disse que o comando da emissora é nacional.
Fundada em 1923, a Disney é dona da rede de TV aberta dos EUA ABC, de 72 estações de rádio, além de estúdios, gravadoras, produtoras, parques e canais pagos.
Pela legislação brasileira, o controle do capital das rádios tem de ser nacional, e a programação tem de ser comandada por brasileiros.
O ministério quer apurar se americanos têm ingerência sobre programação e operação da emissora, que funciona no prédio da Disney, e não no local informado à pasta.
A programação inclui música pop jovem, como Luan Santana e Justin Bieber.
Dois executivos da Disney no Brasil -o diretor financeiro Richard Javier Leon, americano, e o diretor-geral Miguel Angel Vives Vives, mexicano- têm procuração para autorizar empréstimos, emitir cheques e vender bens da emissora, o que denotaria poder de gestão.
Segundo Bernardo, procurações semelhantes têm sido usadas como artifício para transferir a gestão de emissoras a empresas ou pessoas que não podem ou não querem aparecer como controladoras. Ele disse que levará o caso ao Ministério Público.
Até 2007, a Rádio Itapema foi de Orestes Quércia (governador de SP morto em 2010), que ganhou a concessão no governo Sarney (1985-1990).
Ele negociou a emissora com o grupo RBS, que revendeu 71% à Rádio Holding e 29% à Walt Disney Company (Brasil). Paulo Henrique tem 99% da Rádio Holding. O 1% restante é do grupo Disney.
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Post publicado neste blog em 31 de julho de 2011
A perseguição da mídia a Lula e à sua família não terminou depois que ele deixou o poder. Desde a semana seguinte à posse de Dilma Rousseff, em janeiro, que os ataques ao ex-presidente miram todo e qualquer aspecto de sua vida particular – desde os valores que cobra para dar conferências (como faz seu antecessor Fernando Henrique Cardoso desde que deixou o poder) até as atividades privadas de seus familiares.
Essa perseguição obstinada, irrefreável e interminável acaba de ganhar mais um capítulo. Neste domingo, o jornal Folha de São Paulo expõe uma neta do ex-presidente-operário, Bia Lula, de 16 anos, que integra o elenco de uma peça de teatro que recebeu financiamento de 300 mil reais da operadora de telefonia OI. A matéria insinua que o financiamento só ocorreu devido à influência de Lula.
Este post, porém, não pretende questionar a função fiscalizadora da imprensa nas democracias e, sim, a seletividade nessa fiscalização. Não é ruim que a imprensa fiscalize a vida privada dos políticos desde que não faça isso em benefício de outros políticos, tornando-se partícipe do jogo político-partidário, o que lhe retira a credibilidade, razão pela qual esses conglomerados de mídia negam até a morte que têm qualquer preferência política.
Mas o que explica, então, que as atividades privadas dos filhos de um ex-presidente de determinado partido sejam devassadas dessa forma – não poupando nem uma garota de 16 anos ao lhe reproduzir a foto em uma matéria em que, ao fim e ao cabo, chama seu avô de ladrão (nas entrelinhas) – enquanto não acontece o mesmo com os negócios para lá de esquisitos do filho de FHC Paulo Henrique Cardoso, por exemplo?
Fico imaginando o que teria acontecido se Lula tivesse feito em relação ao seu filho o que fez o antecessor em relação ao dele, enquanto ambos  governavam…
Em 1996, Paulo Henrique Cardoso era casado com a filha do dono do Banco Nacional, cuja falência foi evitada por medida provisória editada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Aquela medida tornou possível a venda de parte boa do Banco Nacional para o Unibanco. A parte podre — de seis bilhões de dólares — ficou para o governo pagar. Este blogueiro se cansou de ler editoriais do Estadão defendendo a negociata.
Em 2000, dois anos antes de deixar o poder, FHC autorizou financiamento do seu governo à empresa do próprio filho, Paulo Henrique Cardoso, para montar o pavilhão brasileiro na Expo 2000 na Alemanha, na cidade de Hannover. Foram doados pelo governo federal, então, 14 milhões de reais. O Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal chiaram, inclusive. A imprensa, porém, deu algumas raras reportagens sobre o caso e nunca mais tocou no assunto, sobretudo depois que FHC deixou o poder.
A boa e velha hipocrisia da mídia dirá que tudo isso aconteceu faz tempo e tentará convencer os incautos de que naquela época foi feito um barulho sequer parecido com o que se faz hoje sob meras especulações e não sob fatos concretos como aqueles que pesavam sobre o filho do ex-presidente tucano. Contra Fábio Luís Lula da Silva, por exemplo, afirmam que financiamento da OI à empresa dele seria escandaloso. Mas alguém viu algum jornalista chamar de escandalosos os fatos sobre o filho de FHC?
E o pior é que PHC continua se metendo em negócios estranhos, para dizer o mínimo. A mídia deveria ter curiosidade sobre seus negócios porque seu pai é o líder máximo do maior partido de oposição, partido que controla governos estaduais poderosos como os de São Paulo (o mais rico do país) e Minas Gerais, sem falar da ascendência do ex-presidente sobre a grande mídia, o que faz dele político a ser agradado por empresas privadas.
Veja só, leitor, o negócio fechado no fim do ano passado pelo filho de um dos políticos mais poderosos e influentes do Brasil, um negócio sobre o qual a grande mídia não especulou nada, não quis saber nada e não publicou nada. Em 29 de novembro do ano passado a Rádio Disney estreou oficialmente no Brasil na frequência FM 91,3 MHz de São Paulo. A emissora foi negociada no começo do ano, quando a Walt Disney Company se uniu à Rádio Holding Ltda. e comprou a concessão. A Holding pertence a Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e detém 71% do negócio.
Walt Disney Company é um dos maiores grupos de mídia dos Estados Unidos e esse será o seu maior investimento no Brasil. Teve que se associar minoritariamente ao filho de FHC porque a legislação brasileira não permite que empresas estrangeiras controlem veículos de comunicação. Por isso precisa de um brasileiro…
O filho de Lula, dito “Lulinha” pela mídia, recebeu acusações explícitas e incessantes por receber financiamento de uma grande empresa. Por que foi diferente com o filho de FHC? O caso deles é bastante parecido, ora. Ambos têm sócios poderosos em empresas de comunicação – “Lulinha” produz conteúdo para uma televisão UHF e Paulo Henrique é sócio de um tubarão internacional numa rádio.
É injusto dizer que há irregularidades nesses negócios de familiares dos ex-presidentes. Para expor as famílias da forma como a Folha fez com a neta de Lula, deveria haver mais do que especulações. Tanto para a família do ex-presidente petista quanto para a do tucano. Os valores que eles cobram pelas palestras, idem. Mas se a mídia quer investigar, que faça com todos os políticos e não só com aqueles dos quais não gosta.

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